O filme predileto do administrador de empresas José Ronaldo de Carvalho (Cinema Paradiso, de 1988, do italiano Giuseppe Tornatore) mostra a história do menino Totó, um lírico coroinha que se espreitava para assistir sessões pelas cortinas de um cinema de interior, e depois se tornaria um grande cineasta. O longa metragem, eficiente em levar às lágrimas adultos saudosistas, mexe com as lembranças.
É impossível não associar à própria trajetória da criança de Paripiranga, no norte da Bahia, cujo irmão trabalhava em cinema e uma vez, aos 10 anos, assumiu a locução da estreia, sem autorização de ninguém.
Dois dias antes de ser anunciado como o representante dos Democratas na disputa pelo Palácio de Ondina, Zé Ronaldo, 66 anos, estava certo de que concorreria ao Senado, a Alta Câmara cobiçada por muitos pelos oito anos de mandato, grande nível de influência política e de blindagem às críticas populares nesses tempos turbulentos.
Apresentado como alternativa à não-candidatura de ACM Neto, ele admite que também foi surpreendido pelo anúncio do prefeito de Salvador. “A notícia (da desistência de Neto) foi de grande impacto político, no momento, ficamos sem entender”, confidencia.
Para ele, a polarização foi motivada muito mais pelo governador da Bahia. “O governador Rui Costa elegeu ACM Neto como a pessoa preferida no combate político.”
Assim como Totó de Cinema Paradiso, Zé Ronaldo conta que começou a trabalhar aos 12 anos, depois emigrou para Feira de Santana, onde foi vereador, deputado estadual constituinte, deputado federal e quatro vezes prefeito do segundo maior município da Bahia.
“Sempre com votações crescentes: tive 63% na primeira eleição, 66% na segunda, 68% na terceira, e 71,5% na mais recente”, enumera, fazendo questão de enfatizar a escalada de aprovação.
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Depois de deixar o gabinete da prefeitura de Feira, na segunda semana de abril, o pré-candidato sustenta o bunker político na sede dos Democratas, no 17° andar do edifício TK Tower, no Stiep, onde a entrevista para o Linha de Frente foi gravada. Até dois minutos antes do início do programa, ele atendia ligações de militantes e políticos do interior que planejavam uma visita.
José Ronaldo reconhece que os meses de pré-campanha são fundamentais para tentar ganhar visibilidade estadual. “Não sou muito conhecido no extremo sul da Bahia e na região do Rio São Francisco”. Para compensar, ele planeja uma rotina de viagens e mantém contatos telefônicos ininterruptos com lideranças dessas regiões.
O apreciador de obras audiovisuais ainda não assistiu à série O Mecanismo, mas confirma que recebeu de amigos para ver logo a obra inspirada em recentes escândalos de corrupção. “Ao longo de todos os anos de atividade pública, todas as minhas contas foram aprovadas. Não tenho nenhum processo em que eu seja condenado. Portanto, sou político ficha-limpa. A população cobra que o político tenha respeito ao dinheiro público”, acredita. Nesse aspecto, não poupa Lula.
“Fez uma história política bonita no país, mas toda sociedade sabe que seus governos foram cercados de corrupção”.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista do filho de Maria Rosalina e Joaquim Antônio que já teve como maior meta ser o projecionista em Paripiranga e agora sonha com o cargo mais importante do executivo estadual:
PRISÃO DE LULA
“O presidente Lula foi eleito e fez uma história política bonita nesse país. Lamentavelmente, seus governos foram cercados por atos de corrupção. Isso é conhecido por toda a sociedade. São muitos atos denunciados pelo Ministério Público, pela Polícia Federal e pela Justiça Federal. Nunca vou desejar que ninguém seja preso, mesmo se for adversário político. Essa situação já foi julgada por juiz de primeira instância, por segunda instância, os recursos já foram transitados por STJ e STF e sem êxito. O que está se fazendo é cumprimento de decisão judicial e aí não entro na discussão.”
FALHAS DO GOVERNO
“O baiano não é respeitado quando precisa Central de Regulação e muita gente morra na fila. Nós não temos Segurança Pública na Bahia, nós temos os maiores índices de criminalidade entre os estados, embora não seja o maior do Brasil. Qual uma escola que foi construída pelo atual governo da Bahia? Qual o investimento que se fez na educação? Ficar quatro anos sem dar aumento aos professores e sem corrigir o salário dos aposentados? Isso é governo do Partido dos Trabalhadores? Administrar são prioridades. Eu entendo que o estado tem muitas vezes gastos exagerados. Não sou contra publicidade, o poder público precisa dar conhecimento à sociedade sobre o que está fazendo. Mas às vezes tem um exagero extraordinário”
DESISTÊNCIA DE NETO
“É inegável que a classe política, adversários ou correligionários, trabalhavam com a hipótese de Neto ser candidato ao governo do estado. O governador Rui Costa elegeu ACM Neto como a pessoa preferida no combate político.rnNós, correligionários, defendíamos ACM Neto como candidato ao governo, tanto que me apresentava com candidatura ao senado. A notícia foi de grande impacto político, no momento, ficamos sem entender. Com o passar do tempo, e analisando os fatos, a gente passou a entender. Alguns disseram que ele não teve coragem ou coisa dessa natureza. Hoje eu entendo: um homem jovem, 39 anos, quis continuar com o projeto político e administrativo na cidade de Salvador. Eu já estava no quarto mandato de prefeito de Feira de Santana, realizando, produzindo e construindo. Fui solicitado, entendi, e assumi essa responsabilidade. Com muito respeito à Bahia. Eu tenho uma experiência de vida hoje que tenho capacidade de administrar o estado e dar ao povo baiano uma opção. Já sou idoso, mas sou um homem com coragem, vontade, determinação e muita fé em Deus.”
PRIORIDADES
“Caso eleito, vou) fazer uma ação fortíssima na segurança pública, dar segurança pública. Hoje, a criminalidade é também nas pequenas cidades, na Bahia inteira. A primeira atitude: reunir a equipe da saúde para tomar uma atitude emergencial sobre a saúde pública. Não é possível um paciente ficar seis meses no hospital para fazer uma cirurgia de fratura no fêmur. Isso é falta de respeito com o ser humano. Você tem famílias sofrendo. A Bahia não pode mais demorar para solucionar isso.”
Clique e assista a entrevista completa: