“Desde o ano passado, estamos trabalhando intensamente no projeto Odebrecht do Futuro, baseado na convicção da importância da atuação com ética e dignidade nesse país”. A frase é da gerente de conformidade das Organizações Odebrecht, Cristina Lepikson. “Nós erramos e isso é um reconhecimento e é o princípio de nossa jornada de transformação. Qualquer um só muda realmente quando admite o erro e parte para a construção da solução. É isso que estamos fazendo. Erramos e os erros ficam no passado”, reforça.rnrnA executiva, que está na empresa há apenas três anos, diz que, após os escândalos, a holding cumpriu o “direito ao silêncio” e agora quer exercer “o direito de falar à sociedade”. Pode-se dizer que o aprendizado veio, também, pela dor: mais de 100 mil colaboradores tiveram que ser demitidos nas Organizações Odebrecht. No novo capítulo, a corporação sugere que, para reverter o desgaste de imagem, pretende liderar um movimento de compliance no país.rnrn”Nós acreditamos que a sociedade não tolera mais comportamento corrupto. Não é só no Brasil, isso é uma transformação mundial. Vivemos num momento de ruptura, é uma inflexão que não tem volta. Acreditamos que a sociedade está pronta e queremos fazer parte desse ciclo e ajudar na reconstrução desse país”, declarou no programa Reunião de Pauta, com transmissão exclusiva pelas redes sociais da Aratu.rnrnVeja o vídeo:rnrnrnrnVEJA TAMBÉM: Deputado baiano chama exposição do Santander de humilhação à Igreja: “esses filhos do diabo não podem ficar impunes” rnrnLEIA MAIS: Multa bilionária, demissão de 100 mil funcionários e a promessa da Odebrecht de investir R$65 milhões contra corrupção rnrnNo dia anterior à entrevista, a executiva fez palestra para mais de 120 pessoas representando 80 empresas fornecedoras do grupo. A proposta é de que não apenas os funcionários da Odebrecht, mas qualquer entidade que mantenha contratos com a holding obedeçam a uma mesma cartilha de princípios. O fornecedor que vai interagir com a empresa e com agente público passará por escrutínio maior, em relação ao terceirizado que cuida de serviço de jardinagem.rnrn
rnrnA palestra traça um panorama histórico de programas de Conformidade, a partir do escândalo do Watergate, que resultou na deposição do presidente americano Richard Nixon, em 1974. Em 1997, 35 países assinaram a convenção sobre o combate da corrupção de funcionários públicos estrangeiros em transações comerciais internacionais.rnrn”O mundo vem aprendendo com esses escândalos”, diz Lepikson. “A importância de garantir a continuidade da empresa é em função de um ciclo que pode levar à falência toda a sociedade. Pune-se, sim, as empresas e, principalmente, as pessoas, porque são elas que tomam decisões”, reforçou.rnrnRelatórios da comunidade internacional monitoram custos da corrupção pelo mundo. Estes custos são cada vez menos tolerados pelos cidadãos. Muitos dos convidados elogiaram a iniciativa, mas demonstraram ceticismo sobre a prática efetiva, sobretudo, nas relações com agentes públicos. Um dos representantes de uma empreiteira que presta serviço para a Odebrecht chegou a mencionar como poderia se proteger dos insistentes “pedidos de pedágio por políticos”. Cristina Lepikson respondeu usando um exemplo: “A pergunta que tem que ser feita é a seguinte: se esse encontro sair no Jornal Nacional ou na Folha de São Paulo você vai ficar confortável com isso?”rnrn
rnrnComo consequência da Lava Jato, muitos executivos foram presos e outros afastados. As Organizações encolheram: no melhor momento, eram 180 mil colaboradores, hoje, são 78 mil. O novo diretor presidente, Luciano Guidolin, está assumindo os conselhos de administração de oito empresas da holding.rnrnNa prática, a corporação quer mostrar ao mercado, e à sociedade, a renovação das lideranças de negócios. O Orçamento dedicado a conformidade saltou de R$11 milhões, em 2015, para R$65 milhões em 2017, apenas para investimentos internos. O investimento para manter a consultoria externa que monitora e audita não está incluído neste valor.rnrn”Isoladamente talvez não consigamos fazer as mudanças necessárias. O nosso desafio é fazer o empresário começar a buscar o caminho que não é o mais fácil. O custo do erro eu não recomendo a ninguém. Não queiram passar pelo que estamos passando“, sugere Cristina Lepikson.rnrnMesmo com a avalanche de denúncias e notícias negativas nos últimos dois anos, ela diz que os remanescentes preservam um sentimento de afeto: “o orgulho de pertencer é muito forte”.rnrn rnrnParticipe do debate sobre política e sociedade pelo www.twitter.com/opabloreis