Rui Costa x ACM Neto: o que a vergonha do BaVi pode ensinar para a campanha eleitoral 2018

Façamos um acordo: é demais querer que torcedores fanáticos ajam com razão em plena partida, quando o jogo está totalmente acirrado com o maior rival. Antes do jogo começar, porém, podemos nos permitir três minutos de reflexão.

Quando políticos ascendem ao status de ídolos, precisam calcular suas ações menos com olhos mirando nas urnas e mais com o coração apontado para a integridade dos fãs. A adesão às propostas do governador Rui Costa e do prefeito de Salvador ACM Neto há tempos deixou de ser apenas uma questão de preferência ideológica para avançar no terreno da admiração que beira idolatria.

O magnetismo da massa, que representa a ambição da maioria dos políticos, também tem seu lado de maldição: tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas, ensina o Pequeno Príncipe.

ACM Neto x Rui Costa

Aqui entra em campo a interseção entre a campanha de 2018 e o maior clássico do futebol do Norte-Nordeste. Qual o principal erro dos protagonistas do vexame do BaVi? Independentemente de qual time e qual função esses atores desempenhavam, todos eles minimizaram o alcance inflamável de suas atitudes nas reações alheias. Todos eles ficaram reféns do impulso pessoal desligando aquele interruptor que nos mantém conectados à responsabilidade nos humores e nos amores de quem nos é fiel. Em última análise, desligando o bom senso.

Não é o que vai acontecer entre Rui Costa e ACM Neto, gestores experientes e ciosos do compromisso com a sociedade. Ninguém é ingênuo a ponto de propor fotos de abraços forçados, o que representou a derrota prévia da sensatez e o triunfo da hipocrisia no BaVi da frustração. O que se espera é urbanidade.

Os craques da política ainda estão aquecendo no vestiário, sequer subiram ao gramado, e já motivam as reações mais extravagantes de suas torcidas. Entende-se que provocar um discurso crescentemente beligerante é tudo o que a sociedade baiana não precisa e vai refutar. Entende-se que os dois políticos precisam ficar atentos às próprias trincheiras para, como generais, punirem os soldados que apelarem às armas covardes da fakenews. Essas são apenas versões atualizadas (embora não menos peçonhentas) da incitação ao ódio.

O compromisso neste combate deve ser bilateral. A lealdade não é mais de um para com o outro, mas dos dois para com todos os baianos. O que nós esperamos é testemunhar o que de melhor ambos já demonstraram como gestores: a capacidade que parece inesgotável de trabalho, realização de obras, prestação de contas. Em um momento, talvez inédito, a Bahia tem em seus dois principais administradores um espelho dos nossos personagens anônimos mais emblemáticos: a dona da banca de acarajé, o mestre de obras, o vendedor de cafezinho, a diarista, que acordam bem cedo, dormem bem tarde e, no intervalo entre um e outro, produzem o máximo que podem para garantir o conforto de suas famílias.

Com a diferença de que as famílias que Rui e Neto lideram são bem maiores, eles já provaram que político que quer reverter a má fama do segmento não precisa de gabinete (aliás, tem que fugir de lá). É daí que vem a certeza: ambos sabem que mergulhar no pântano de intrigas é deixar-se engolir na areia movediça dos blasfemos, cair na vala comum dos velhacos; não é fazer política.

Ambos parecem obstinados a deixarem os nomes entalhados no panteão dos baianos ilustres e não querem que suas biografias evaporem na fogueira de uma campanha infame. Por isso que são bem maiores do que os protagonistas do BaVi.

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