Doutor em Direito Penal Econômico, integrante da comissão convocada pelo Senado para a revisão do Código Penal, o advogado Gamil Foppel sempre esteve entre os mais destacados juristas da Bahia. Seu nome ganhou muita projeção nacional ao assumir a defesa técnica do ex-deputado e ex-ministro Geddel Vieira Lima, preso preventivamente em 3 de julho, como desdobramento da Operação GreenField. O político já tinha sido alvo da Operação Cui Bono, por suspeita de ilícito quando era vice-presidente da Caixa.rnrnAdvogado e professor, Gamil passou a exercer a defesa e também argumentar na contramão da opinião pública. “Todos os crimes têm que ser investigados e todas as pessoas que praticaram atos ilícitos devem ser punidas de acordo com lei e na medida da lei. O que tem acontecido ultimamente é que as pessoas têm olhado o processo legal como se fosse irrelevante. Há violações manifestas à letra da lei em investigações sensíveis como a Lava Jato“, alerta.rnrn”Já houve situações em que determinado magistrado chegou a fixar prazo de uma hora para a defesa se manifestar. Estão fixando prazos como se fossem gincanas de escola, porque gincana de escola que você tem prazo de uma hora. Há situações em que foram juntados aos autos, durante a madrugada, mais de 60 documentos! E havia audiência no dia seguinte de manhã. Como é que você lê esses documentos para se preparar para audiência?”, questiona Gamil.rnrnAs declarações foram dadas durante gravação do programa Aratu Repórter, tratando sobre o júri que absolveu a médica Kátia Vargas, acusada pela morte no trânsito dos irmãos Emanuel e Emanuelle Gomes Dias. Gamil aproveitou para indicar como o Direito precisa trabalhar com provas, independentemente do clamor popular. “Sartre dizia que o inferno são os outros. Toda e qualquer pessoa pode se envolver num processo penal. Você pode sair de sua casa e atropelar uma pessoa culposamente, porque está distraído. Quando isso acontece é que as pessoas esperam que, a partir dali, os direitos dela sejam respeitados.“rnrnVeja as declarações de Gamil Foppel:rnrnrnrn rnrnLEIA TAMBÉM: Papa Francisco faz sermão contra a corrupção e alerta políticos: o que significa isso na prática? rnrnVEJA AINDA: Conselheiro do TCE acusado por procuradora do estado se defende: “represália e tentativa de atingir honra” rnrn rnrnEm julho deste ano, o advogado publicou um artigo na Folha de São Paulo, sob o título Em Defesa de Geddel Vieira Lima, em que já na abertura convoca para a reflexão: “Caro leitor, antes de ler este texto, por favor, dispa-se dos seus preconceitos”. Clique aqui para ler o artigo.rnrn”Um dos preços mais caros que a pessoa paga é a coerência. Você ser coerente o tempo inteiro é muito difícil. Normalmente, o ser humano tem uma tendência a argumentar por conveniência. Quando a pessoa que está sendo julgada é nossa amiga, a gente quer que a lei seja respeitada. Quando é alguém que a gente não conhece, ou que não gostamos, a gente não quer que a lei seja respeitada de jeito nenhum.“rnrn”Quando a gente começa a querer desrespeitar as regras para uma pessoa, se acontecer com nosso amigo, a gente não poderá reclamar mais”.rnrnO advogado admitiu que sofre ataques via internet por levantar esse tipo de análise. Mas disse não se importar. “Falar isso tem um preço pessoal muito alto. Eu não tenho muita preocupação com redes sociais. Sugeri a revogação do regime disciplinar diferenciado. Na internet, as pessoas começam a te atacar pessoalmente. Falar contra o que as pessoas quase encegueiradas acreditam é decepcionar paixões. Eu não procuro a posição de conforto. As pessoas deixam de tomar posturas porque elas não querem ser respeitadas, elas querem ser queridas. Existe uma verdadeira compulsão por querer ser querido”.rnrnGamil Foppel concluiu: “As pessoas não falam o que querem e pensam, falam o que acham que as pessoas querem ouvir. Na hora que chegam pessoas que apontam o que está errado, e elas não querem ouvir, óbvio que há uma resposta social difusa que não é agradável para ninguém”.rnrn rnrnParticipe do debate sobre política e justiça pelo www.twitter.com/opabloreis