Casos ufológicos na Bahia: as histórias fantásticas de relatos e registros de OVNIs

No final de 2002, por mais de 45 dias, pude realizar, profissionalmente, uma pesquisa sobre um tema que me intriga desde muito criança. Ao lado de alguns dos melhores fotógrafos do Correio da Bahia, percorremos uns 1500 quilômetros no estado para ouvir e registrar os relatos de baianos que tinham alguma história intrigante para contar sobre visões dos chamados objetos voadores não-identificados (OVNIs).

De Mucugê a Riachão do Jacuípe, de Morro do Chapéu a Camaçari, as narrativas de vaqueiros, feirantes, domésticas, até políticos eram de impressionar, pelo vasto espectro de cenas surpreendentes – mas também pela seriedade com que todos tratavam as histórias que diziam ter vivido. Um importante cientista baiano (respeitado internacionalmente como um superdotado) deu um depoimento que parecia saído de um roteiro de Steven Spielberg, tamanha a riqueza de detalhes. Mas exigiu que o nome não fosse divulgado – e que me processaria se eu fizesse.

Recentemente, o Pentágono foi obrigado a admitir a existência do que chama de Fenômenos Aéreos Não Identificados. O assunto deixou de ser tema de gracejos na grande mídia, quando ex-oficiais da Marinha e da Inteligência americanas resolveram vir a público com filmagens e relatos que colocam em risco a segurança nacional. Até o mês que vem, as Forças Armadas dos EUA terão que apresentar ao Senado tudo o que sabem sobre o assunto, e que estaria escondido desde a década de 1940, após o emblemático caso Roswell. Há quase 20 anos, muitos baianos aceitaram falar nessa reportagem sobre experiências que outros achavam inacreditáveis, ou motivos de piadas. Eles sabiam que não havia nada para rir a respeito. As histórias são fantásticas e renderam 30 laudas de reportagem: acredite quem quiser…

MISTÉRIOS DO ESPAÇO

Baianos relatam casos de OVNIs e abduções que intrigam os estudiosos 

Um estranho ponto luminoso no céu, algum som estridente ou melodiosamente afinado, um objeto veloz que se move em ziguezague no espaço, humanóides em roupas prateadas que caminham e desaparecem inexplicavelmente. Fenômenos que, para a maioria das pessoas, permanecem no universo do fantástico, mas, para outros, constituem capítulos de suas vidas. Eles relatam contatos imediatos com entidades extra planetárias, visões de objetos voadores não-identificados, formas telepáticas de comunicação e as intrigantes abduções. Os casos ufológicos na Bahia são numerosos e sedutores. Poder dizer se as narrações originam uma nova mitologia cósmica ou se registram os primeiros indícios do verdadeiro conhecimento sobre “o que está lá fora” é uma coisa que só o tempo e as pesquisas serão capazes de diferenciar.

CONTATOS IMEDIATOS

Histórias de outro mundo intrigam baianos e despertam a atenção dos cientistas

Seu Antonio de Ovidio, carrega o neto no colo e aponta para o local onde vê, frequentemente, o “ouro encantado”

A noite cai lenta nas paragens tranquilas da zona rural de Riachão do Jacuípe, a 188km de Salvador. Na região do Alto do Juazeiro, distante 12km da sede, Antônio de Ovídio, 68 anos, um senhor alegre que não desgruda do mais novo dos oito netos, relaxa na varanda de piso vermelho, olhos perdido no firmamento. Já passa das 19h e, por causa do horário de Verão, o ocaso ainda produz uma coloração avermelhada no horizonte, na direção da roça do vizinho, seu Salvador. O espetáculo do pôr-do-sol não é mais motivo de tanta contemplação para seu Antônio. Com a paciência de um Buda da caatinga, ele aguarda a aparição do “ouro encantado”, uma bola de luz que visita frequentemente os antes espantados e hoje curiosos moradores da área.

O “ouro encantado” não decepciona o velho e seu netinho de um ano e meio. No tempo necessário para o sol sumir e a luz azulada começar a levantar da faixa de terra que parece mais próxima do céu, ele surge. A bola amarelada, do tamanho de um punho fechado, aparece voando a uma altura pouco acima da casa humilde, de três cômodos, que seu Antônio rebocou e mobiliou parcamente. Pára a pouco mais de 100 metros e inicia a etapa mais bonita e impressionante do show. Começa a crescer, adquirindo um formato de uma bacia, até atingir o tamanho de um carro, raramente visto por lavradores daquelas bandas. Muda de amarelo para azul, lilás, vermelho, praticamente todos os tons. A luminosidade é intensa, a ponto de seu Antônio dizer que é capaz de encontrar uma agulha no chão, tamanha a claridade. Depois do rodízio cromático de dois minutos, a bola diminui para o tamanho original, voa horizontalmente para as bandas do rio Sacraiú e desaparece de forma tão misteriosa e incompreensível como surgiu. Não há medo, nem espanto. Apenas uma vontade grande de voltar para o repouso do lar.

O fenômeno já aconteceu tantas vezes (desde o tempo do pai de seu Antônio) que muita gente desistiu de ficar contemplando. Cansaram. Em oito anos de vigílias, o ufólogo João Jorge Carvalho, de Riachão, conseguiu, inclusive, registrar mais de 20 minutos de gravações em vídeo e dezenas de fotografias.  “A última vez que a luz apareceu?”, indaga retoricamente o camponês a este repórter. “Tem pouco tempo”. Estamos esperando um complemento com algo do tipo: cinco meses. “Foi ontem mesmo”, responde, com a naturalidade de quem comenta quando foi a última ida ao cinema. Sem instalação elétrica em casa, seu Antônio e os parentes só assistem à televisão quando uma bateria de carro está carregada. Ele vê com mais frequência fenômenos do espaço do que a novela das oito.

A 400km dali, anos antes, um fato parecido mudou a vida de um senhor com quase a mesma idade de Antônio de Ovídio. Jacob Muller trabalhava diligentemente na transcrição do Estatuto do Movimento de Defesa da Chapada Diamantina naquela manhã quente de domingo, auge do Verão de 1993. Inteligente, persuasivo e com uma espécie de carisma austero que inspira confiança, conseguira liderar a comunidade e mobilizar os trabalhadores rurais da região, pouco depois de se mudar para lá, em 1983. À frente de um grupo de roceiros, barganhou uma linha de crédito especial do Banco do Nordeste, beneficiando mais de cem famílias. O nome esquisito, o sotaque acentuado e a pele constantemente avermelhada por causa das atividades na roça fizeram com que os moradores lhes dessem um apelido que parecia um carimbo de passaporte: “O Alemão”. Nascido em Salvador, filho de europeus, Jacob nunca se preocupou em explicar a todos que era baiano como eles. Ficou sendo Alemão e pronto.

Naquele final de manhã de 19 de dezembro, ele não pensava em nada disso. Queria apenas terminar de reescrever em um novo livro de atas os longos textos do estatuto. Para agilizar o trabalho, tinha saído da casa na cidade para uma morada simples de três cômodos erguida na Fazenda Triângulo. A propriedade, a pouco mais de 5km do centro, tinha o nome de Fazenda Machado, mas Jacob considerou uma denominação pouco ecológica e tirou a ferramenta para rebatizar com a figura geométrica. Ali, em companhia da mascote Bolinha (uma cadela pequinesa bem acima do peso), sentado de costas para a única janela, percebeu uma claridade no ambiente, anormal para aquele horário. Eram 23h. Bolinha, que estava cochilando, acordou, olhou para a porta e começou a rosnar. Matou a charada: cobra. “Calma, minha filha, que já resolvo”, tranquilizou Jacob ao animal, à medida que sentia um crescente aumento de claridade e uma indefinível vibração no ar. Sem pegar nada que pudesse usar como arma contra uma cobra, saiu para a pequena varanda frontal. Mal chegou à porta, viu, a 2m de distância, um globo de 1m de diâmetro parado no ar. Parecia ser feito de alumínio, mas com coloração entre o vermelho e o dourado.

Jacob já tinha conhecimento das histórias dos caminhoneiros de Mucugê, que diziam ser constantemente seguidos por luzes no trajeto até Andaraí. Deu um passo à frente para se aproximar do objeto, mas a esfera, instantaneamente, voou para a direita em linha reta. Com a curiosidade aguçada, Jacob saiu da varanda estreita e olhou na direção do percurso do globo. O espanto foi grande quando avistou, sobre um pequeno riacho da fazenda, um “troço” parecido com um charuto gigante ou um dirigível. Tinha 50m de comprimento por 3m de diâmetro. O Alemão caminhou ao encontro do objeto e, a uns 20 passos de distância, o viu sumir para o alto. Quando chegou no lugar, o capim estava queimado de uma forma estranha, de dentro pra fora. A bióloga Maria Lenise Silva Guedes, docente do Departamento de Botânica da UFBa, a pedido da reportagem, identificou a espécie como da família Typhacea, da espécie Typha dominguensis, geralmente encontrada na beira de rios. Entretanto, argumentou que não tinha subsídios para analisar se houve intervenção semelhante à narrada por Jacob Muller.

Atônito, Jacob comentou com a pequinesa que não teria tranquilidade para terminar o trabalho e tomou a estrada para casa. Ao passar pela Fazenda Souto Paraguassu, foi parado por um tratorista. “Ô, Jacob, o que foi aquela luz forte que estava em frente da sua casa?”. O ajudante do tratorista ainda completou: “Como aquele Fusca parou junto do rio, se lá não tem estrada?”. Jacob Muller, na época com 65 anos, graduado em engenharia elétrica, engenharia mecânica e criminologia , mestre da Maçonaria e poliglota, não teve muito como explicar: “Não era Fusca, não. Era outra coisa”.

Histórias como as de Antônio de Ovídio e Jacob Muller podem parecer narrativas de pessoas com distúrbios ou gente que está fora da realidade. Não são. “Não é difícil separar quem está contando uma experiência real de quem está simplesmente descrevendo uma alucinação”, garante um psiquiatra que investiga relatos desse tipo na Bahia, mas prefere ter o nome preservado, alegando ética médica. “São pessoas com profissão sólida, família equilibradas e que não apresentam histórico de loucura ou uso de drogas. Se os depoimentos contém riqueza de detalhes e não entram em contradição, as chances de serem verídicos são de 99%”, conclui o médico.

Ao longo de quase dois meses de pesquisas e entrevistas, encontrei personalidades de todos os tipos. Algumas se enquadravam no perfil oposto ao sugerido pelo psiquiatra. Os depoimentos dessas pessoas foram ignorados. Após essa triagem comportamental, o que sobrou no filtro de testemunhos extraordinários é capaz de provocar reações que vão do choque à incredulidade, do maravilhamento à repulsa.

Este é o fabulosos terreno da ufologia, fértil em ocorrências na Bahia, mas árido em discussões amplas, como são com os grandes tabus. Os astrônomos do Observatório Antares, em Feira de Santana, têm conviccção de que nem tudo o que reluz no céu é UFO (sigla de undentified flying object, ou objeto voador não identificado). “Em cerca de 95% dos casos são visões do planeta Vênus, balões meteorológicos, estações espacieiais, aviões, meteoros e até eventos climáticos. Agora, os 5% restantes são inexplicáveis à luz de nosso conhecimento atual”, afirma o diretor do observatório, Augusto César Pereira Orrico. São os 5% restantes na aritmética cósmica do astrônomo César Orrico que chamam a atenção e viraram alvo desta reportagem. Histórias de pessoas comuns que viveram, em determinado momento da vida, uma excepcional aventura, de alguma forma ligada à possibilidade de presença alienígena na Terra. A opção de acreditar ou não é tão livre quanto o condor que domina o céu e a poesia de Castro Alves. E que, pelos relatos de inúmeros baianos, parece não estar sozinho nesta cruzada aérea.

 

LUZES NA ESCURIDÃO

relatos de camponeses impressionam pelo realismo na descrição dos fenômenos

A fotografia de Manoel França, que registrou luzes no céu de Jaguaripe, publicada no Jornal da Bahia

Um clarão entrou pela sala da modesta habitação do caseiro Edmilson, funcionário da Fazenda Volta do Rio, em Riachão do Jacuípe. Já era noite alta. Instigado pela mulher Rita, o vaqueiro olhou pela janela e viu a malhada onde estava o gado completamente iluminada. Estranho, porque a energia elétrica só chegaria na região cinco anos depois. Sobre os animais, voando baixo, Edmilson avistou um negócio que só conseguiu comparar a uma antena parabólica cheia de lâmpadas. Fechou a casa toda, trancou-se no único quarto com a mulher e ficou aguardando até que aquela coisa esquisita sumisse. Foi a primeira vez que Edmilson, valente na hora de enfrentar touros, sentiu medo.

Depois desse episódio, ocorrido em 1996, a bravura de caubói do sertão começou a dar lugar a um constante temor, inédito naqueles 29 anos de vida. E fenômenos noturnos fora do comum, como luzes verdes, azuis, vermelhas e lilases clareando o curral de madrugada, não pararam de acontecer. A reação de Edmilson é sempre a mesma: ficar imóvel, fechar os olhos e rezar, torcendo para que termine logo. Tímido, desconfiado e matuto, precisou de um tempo para se aproximar do patrão (o bancário Virgílio Pereira, 45 anos, caixa do Banco do Brasil há 26, casado, dois filhos) e comentar sobre os inexplicáveis aparecimentos. Os dois viraram cúmplices nas aventuras extraordinárias na roça.

Certo dia, ano 2000, Edmilson mais do que simplesmente uma luz ou uma antena parabólica voadora. Com sua limitada sabedoria de roceiro, classificou o que estava enxergando , em um ponto no mato, como uma barraca iluminada. Correu para chamar a mulher Rita, e o patrão Pereira. Este, mais instruído, percebeu que a “cabana” anunciada por Edmilson, na verdade, era formada de cúpulas, a mais externa platinada, sob ela uma de vidro e, entre as duas, uma substância fluida. Caminharam em direção à “barraca” e, a uns 150m de distância, conseguiram visualizar ocupantes. Para Edmilson, eram quatro bonecos ou crianças. Tinham entre 70cm a 1m, pele bem branca (“eram galegos”, descreveria depois o vaqueiro), cabeças pelas e braços desproporcionais, quase tocando o chão. Pereira percebeu bem a espécie de fumaça que circundava o local: ora azul, ora vermelha, bem clarinha.

Chuviscava. As gotas de água caindo próximo àquele pequeno nevoeiro colorido produziram uma imagem inesquecível para o trio. Emocionada, Rita sugeriu que fotografassem a cena. Pereira correu para casa e, em dois minutos, estava de volta com a máquina. Quando bateu o flash, os seres simplesmente desapareceram como se estivessem voando a uma grande velocidade. Segundos depois, reapareceram. Rita sugeriu nova fotografia.

Mesmo com a reprovação de Edmilson, Pereira insistiu em apertar o disparador. A resposta foi um raio que saiu do local onde estava a “barraca” e iluminou os pés dos três, paralisando-os. Instantes depois, com a força recuperada, Edmilson, geralmente pacato, de voz mansa, esbravejou: “a gente não devia ter feito isso”. No dia seguinte, foram investigar se havia algo no local onde a barraca fora armada e identificaram marcas do que seria um tripé, com cerca de 15cm de profundidade, num solo formado de rochas. O filme da máquina estava inutilizado.

Um raio que impede uma fotografia é conteúdo da história de Manoel França, caso clássico da ufologia baiana. Era noite de 16 de abril de 1979. A energia elétrica das residências e das ruas de Barreiras do Jacuruna, distrito de Jaguaripe, havia sido interrompida com o desligamento tradicional do gerador, às 22h. O fotógrafo Manoel França, que normalmente dormia antes das luzes serem apagadas, não conseguia pegar no sono. O calor incomodava. Saiu até a varanda para tocar violão e aproveitar o ar fresco. Logo que chegou à porta, viu uma bola de luz grande, do tamanho da lua, sobre o manguezal. O primeiro pensamento de França, um repórter fotográfico de nível de instrução mediano, foi geográfico. “Mas a Lua não pode estar desse lado”. Girou o corpo e viu a Lua atrás

 

Aversão ao flash

Mas se não era o satélite natural, o que poderia ser? França não teve tempo de especular. A luz intensa se transformou em dois focos, separados como faróis de carro. A uma distância superior a 500 metros, pareciam do tamanho de dois limões. Manoel correu para pegar a máquina fotográfica semiprofissional, enquanto gritava para chamar a atenção da mulher, Natália Bonfim França. Ao apontar a lente para o local original, as luzes tinham saído. Seguiam em baixa velocidade para a direita. Excitado com a chance de conseguir um registro inédito, França mirou a máquina e clicou quantas vezes conseguiu antes de as luzes desaparecerem.

No dia seguinte, revelou o filme no laboratório do Jornal da Bahia, onde trabalhava, e pôde mostrar aos colegas a imagem do que tinha visto: um ponto luminoso bem maior do que as estrelas no céu.

As fotos e a história ganharam destaque na edição de 18 de abril de 1979, mas os colegas, céticos, foram implacáveis nas gozações: “Quer dizer que você joga um siri para o céu, tira a foto e diz que é disco voador?”, zombavam. Críticas injustas, como comprovariam as análises de negativos, ampliações e até comparação com o posicionamento das constelações naquele noite, feitos, meses depois, pelo ufólogo e então colunista do Jornal da Bahia, Alberto Romero. Durante toda semana, o veículo publicou matérias de testemunhas entre os 900 moradores de Barreiras do Jacuruna, que também tinham presenciado o deslocamento de “luzes gigantes” no céu. Os fenômenos aconteciam desde 1963, conforme relatos de pessoas respeitadas na comunidade

Mas as gozações aborreceram Manoel França a ponto de ele não ser capaz de pensar em outra coisa, a não ser conseguir fotos com nitidez maior para provar que não havia fraude. Pegou uma lente com zoom no jornal e todos os dias, após o expediente, levava o equipamento para Jacuruna, na esperança de conseguir outro flagrante espacial. Um mês de vigílias noturnas depois, França avistou quatro luzes rumando novamente para a direita. Depois, a luz que se bipartia apareceu do mesmo jeito da vez anterior. Preparou a máquina e deu alguns cliques. Quase instantaneamente, foi atingido por um raio que o arremessou alguns metros para trás. O fotógrafo ficou acordado por uns 20 minutos e só despertou com ajuda da filha, que estava em gravidez avançada. Foi ela também quem encontrou a máquina, a 30 metros do local, sem nem mesmo um arranhão. Até um mês depois, França apresentaria sintomas semelhantes aos provocados por exposição a radiação: náuseas, vômitos e dor de cabeça. A filha também teve sequelas parecidas e deu à luz um bebê com problemas congênitos. No dia seguinte, ao tentar revelar as fotografias, França percebeu que o filme estava queimado. Além dos transtornos físicos e da pilhéria com o caso, foi penalizado com demissão, por ter levado equipamento do jornal para casa, mesmo sem tê-lo danificado.

O caso Manoel França repercutiu na época e terminou se transformando em um dos marcos da ufologia brasileira. Só que as consequências negativas despertaram nele uma aversão ao assunto. Não conversa sobre o episódio e não admite sequer dar entrevista. Aos 53 anos, trabalha na Agência de Comunicação do Estado (Agecom) e quer esquecer tudo o que aconteceu. “Só me trouxe problema e dor de cabeça. Inclusive, vendi a casa da ilha por qualquer preço, porque não tinha sossego naquele lugar”, confidenciou a este repórter, por telefone.

 

Predador invisível

Nem só de lendas de lobisomem e mula-sem-cabeça sobrevive o rico folclore dos pequenos povoados do interior. É nas visões surpreendentes descritas com linguajar limitado dos camponeses (livres de influências da ficção científica) que o realismo se destaca. Quando assistiu ao filme O Predador, o gráfico Geraldo Nunes de Souza (pseudônimo) ficou transtornado. A figura de uma criatura alienígena que utiliza como disfarce um método de quase invisibilidade entre a vegetação foi suficiente para remeter Geraldo às lembranças da experiência mais impressionante de sua vida.

Em um sábado qualquer de 1973, então com 18 anos, foi caçar com o amigo Eliomar em uma mata no distrito de Maracangalha, São Sebastião do Passé, a 58km de Salvador. Saíram pela manhã, levando espingarda, cartucheira e faca. Também carregavam anzol e linha para pescar em um braço do Rio Joanes, se a caça estivesse fraca.

Pouco proveitosa, a busca na mata Mucuri 2 já estava tediosa. Passava do meio dia, a julgar pelo sol. Quando caminhavam para o rio, Geraldo e Eliomar ouviram um barulho forte, parecido com um liquidificador supersônico. “Que diabo é essa zoada? É avião?”, perguntaram-se, assustados. Saíram da mata e, perto do pasto do gado, tiveram a surpresa. A uma distância de uns 10m, viram um veículo discóide pousando no mato. Parecia feito com dois pratos invertidos e superpostos, com uma antena em cima. Era do tamanho um pouco mais do que uma carreta. Não tinha letras, nem números, nem janelas. Geraldo, torneiro mecânico da Usina Cinco Rios, prestou bastante atenção nas três “pernas” que saíram do objeto e fincaram-se no chão. No centro dos dois pratos, habia uma faixa de um metro de largura com luzes de praticamente todas as cores que piscavam e giravam.

Geraldo e Eliomar começaram a lacrimejar a sentique secura na boca e ardência nos pulmões quando respiravam. A temperatura tinha subido muito acima do calor normal de início de tarde. O cheiro era insuportável e a sensação era de fraqueza e desmaio. Com muito medo, a dupla permaneceu escondida. Viram uma porta abrindo como se fosse sanfonada. Em posição frontal, Eliomar conseguiu perceber um imenso painel de luzes coloridas no interior daquele veículo. com alguns minutos, uma criatura de forma humana, mas com uma inconcebível constituição de vapor, desceu pela abertura. A aparência era bem parecida com a camuflagem do vilão do filme O Predador, que Geraldo só assistiria 20 anos depois. trazia na região conde seria acima dos quadris um cinto de luzes coloridas.

O ser se abaixou para recolher pedras e plantas. Outra criatura semelhante saiu da nave e se posicionou como sentinela. Levavam um instrumento pontiagudo, comparado a um arpão eletrônico que, por causa da forma transparente do condutor, parecia flutuar.

Eliomar ainda viu um terceiro tripulante no interior. Após o que pareceram três minutos de exploração, o mais avançado retornou para a nave, o sentinela recuou, a sanfona fechou e iniciou-se a rotação do anel central. A operação provocou uma forte ventania, um pequeno turbilhão arrastando galhos de árvores, folhas, areia, tudo pelos ares. Simultaneamente, o zumbido infernal fez com que os dois amigos levassem as mãos aos ouvidos. depois de se elevar uns dois metros, as “garras” foram recolhidas e, 10 metros acima do solo, o objeto fez uma manobra e sumiu como um raio.

Ao contarem a história no lugarejo, os comentários foram de que os dois tinham fumado maconha, apesar de os jovens declararem que nunca sequer tinham ouvido falar dessa droga. No dia seguinte, Geraldo percebeu que um trator tinha sido mandado para revirar a terra no local do pouso e apagar as marcas no capim queimado. A ordem do dono da usina foi de que ninguém poderia comentar o caso, sob pena de demissão.

Atualmente com 47 anos, Geraldo é casado e tem um casal de filhos, trabalha com silk screen e tornou-se uma pessoa muito assustada. Não gosta de relembrar o caso Maracangalha e acredita que está sempre sendo observado. “Sinto como se algo me chamasse para voltar sozinho àquele local”, sussurra. “Mas tenho muito medo”.

Ao contrário dele, que conseguiu constituir família e ter uma vida razoavelmente tranquila, o destino do amigo Eliomar foi trágico. Após a experiência na mata, desenvolveu o estranho comportamento de trancar-se no quatro a cada três meses para beber e fumar um fim de semana inteiro. Quando passava o delírio da embriaguez, Eliomar dizia não saber explicar as razões da atitude. Menos de um ano depois, suicidou-se com um tiro sem que nem mesmo o amigo Geraldo entendesse seu tormento.

 

RAPTOS SIDERAIS

Casos de telepatia, abdução e implantes são polêmicos na ufologia

Desenho reproduz a narrativa de um contato em Maracangalha, na década de 70

Margot (nome fictício) ainda lembra do grito vindo dos fundos da fazenda naquele fim de tarde em novembro de 1982: “Corre, dona Margot”. Era a voz de Valdelice, uma das domésticas da casa, que tinha ido até a fonte pegar água. Na propriedade nos arredores de Antas, não havia água encanada, luz elétrica, nem tv. Rádio, só raramente, quando se conseguia uma sintonia razoável. “Vem logo, dona Margot”.

Pelo tom de desespero, só poderia ser cobra. Com a dificuldade de locomoção própria de quem está no oitavo mês de gestação, Margot agarrou uma vassoura pelo cabo e saiu disposta a agir. Só que encontrou algo que não rastejava e sequer estava apoiado no solo. Valdelice apontava para o céu.

Margot ergueu a cabeça e viu um objeto redondo, que comparou com uma bacia grande de alumínio, emitindo uma luz lilás no centro, e uma luz verde ao redor. Ambas piscavam. O objeto estava a uma altura de dois postes.

Margot trabalhara três anos em duas companhias aéreas (primeiro como intérprete, depois como chefe do setor de bagagens), antes de mudar para a fazenda com o marido. Sabia muito bem o que era um avião e, excetuando-se o fato de estar voando, aquilo não se parecia em nada com a invenção de Santos Dumont. Os agricultores voltavam do trabalho na roça. “Dona Margot, é a terceira vez que vem aqui e saem numa velocidade que a senhora tem que ver”, observou um dos empregados.

Na hora, a reação dela foi de curiosidade. “Meu Deus, eu queria saber o que tem lá dentro”, pensou. Instantaneamente, a nave se aproximou um pouco. O interesse deu lugar a um pânico involuntário, a ponto das pernas da dona-de-casa tremerem. A nave recuou. Na época, Margot não entendia a razão do movimento do objeto atender às suas reações. Anos depois, lendo livros sobre o assunto, chegaria à conclusão de uma comunicação telepática. Margot supôs que o que estivesse ali dentro se dera conta de que o pânico poderia prejudicar o bebê. Também sentiu um carinho diferente de tudo o que houvera experimentado antes.

O episódio foi testemunhado por seis empregados da fazenda, que assistiram a tudo paralisados. As quatro crianças (filhos dos lavradores) choravam de medo. “não chore, não, meu filho, porque se morrer vai ser todo mundo”, consolou um dos pais. O mesmo trabalhador que avisara ser o terceiro dia de aparições pediu para prestarem atenção em como sairia de cena. Sem fazer barulho, “nem dar uma ré para pegar no arranque”, simplesmente sumiu como se fosse um raio. O veículo voador jamais tornou a aparecer.

A história impressionante de Margot não se encerra aí. Mais de dez anos depois do encontro sideral em Antas, conheceu o ufólogo Emanuel Paranhos, em Lauro de Freitas, que emprestou a ela o livro Abduções, do psiquiatra americano e vencedor do prêmio Pulitz, John E. Mack. Com a leitura, Margot diz que começou a lembrar de fatos estranhos e interpretá-los de outra forma. Em Antas, algumas vezes, ela amanhecia em outro quarto, sem roupa, estrnhando não sentir frio na gélida noite do sertão. Acordava com a barriga grande para cima, posição incomum para uma grávida e com a camisola no chão. O marido (já falecido), que tinha sido padre, ficava olhando para ela nesse estado e ambos não sabiam o que dizer. Margot não reclamava de dor ou desconforto, apenas uma inexplicável sensação de bem estar.

Outra informação lida no livro impressionou ainda mais a hoje estudante de Direito, mãe de três filhos. Mack escreve que crianças observadas no útero por ETs nascem com manchas no corpo, como se fossem queimaduras. Quando Margot leu o livro, a primeira filha, Ana Júlia (nome fictício), tinha 13 anos. Um sinal congênito no pescoço estava mais evidente do que nunca.

Intrusos na área

Baseada no estudo minucioso do livro de Mack (que virou uma bíblia para ela), Margot acredita que era abduzida por seres extra-terrestres naquela época. “Rapto com violência, fraude ou sedução” é o significado de abdução no dicionário. No jargão ufológico, a expressão ganhou conotação maldita. Para os pesquisadores, trata-se de sequestros de humanos praticados por entidades extra planetárias, para estranhos exames científicos e procedimentos desconhecidos.

Principalmente nos EUA, muitos especialistas se dedicam ao assunto. Junto com John Mack (psiquiatra da Universidade de Harvard), Budd Hopkins (autor do livro que virou o filme Intruders) e David Jacobs (PHD e professor de História na Universidade Temple, Pensilvânia) formam a tríade dos mais renomados estudiosos do tema.

“Os eventos que os abduzidos relatavam eram completamente implausíveis. Descreviam, vezes sem conta, situações fisicamente impossíveis, como flutuar através de uma janela fechada ou comunicar-se de forma telepática, o que não fazia qualquer sentido científico”, avisa Jacobs, no livro A Vida Secreta. Grande parcela dos casos de abdução documentados é acompanhada da descoberta de objetos inseridos em regiões delicadas do corpo humano. Chamados de implantes, são visualizados em ultrassonografias e Raios-X, só que dificilmente extraídos, pois se encontram em órgãos onde uma cirurgia pode custar a vida do paciente, como o cérebro.

Um dos casos que mais impressionaram o argentino radicado na Bahia Alberto Romero em 50 anos de dedicação a pesquisas ufológicas foi o de Ana Becker (pseudônimo), residente em um grande município do interior, a pouco mais de 100 km de Salvador. Becker tinha sensações de tempo perdido ao dormir, como se o intervalo da noite para o amanhecer durasse apenas alguns minutos. Algumas vezes, sonhava com estranhos seres mostrando naves. Depois de algumas semanas, a Sra Becker começou a notar crescimento do ventre, seios e produção de leite materno. Seriam sintomas facilmente identificados como gravidez, se não fosse a constatação de que ela havia feito laqueadura. Pouco tempo depois, expeliu, segundo Romero, uma espécie de ovo de nove centímetros de comprimento por quatro de largura, bastante mole, com uma mancha escura no centro, da qual saíam filamentos. Submetida pelos ufólogos a uma terapia de regressão, em 1997, deu um depoimento chocante durante a sessão, como está detalhado no livro Verdades que Incomodam, de Alberto Romero.

“Estou deitada em minha cama e meus irmãos, neste momento, estão dormindo. De repente, aparecem dois seres altos… Não sei como entraram! Eles usam roupas azuis bastante justas ao corpo. Aproximam-se de mim e inserem em meus ouvidos um instrumento metálico. Parece choque elétrico, mas não dói”.

Com tantos elementos inverossímeis, histórias desse teor podem até ser apontadas como distúrbios esquizofrênicos. Um médico neuropsiquiatra e um psicanalista baianos pesquisam casos deste tipo e garantem que não se tratam de patologia psíquica. “Uma vez recebi um paciente que se queixava de sonhar com criaturas iguais a lagartos e ter frequentes poluções noturnas. Ele também disse que sentia uma espécie de coriza no nariz e acusou uma alergia, por causa de manchas vermelhas no corpo”, conta o respeitado neuropsiquiatra, de notoriedade internacional. “Quando pedi para ele levantar a camisa, vi que apresentava incisões milimetricamente calculadas pelo corpo, como se fosse matrizes, com linhas e colunas delimitadas. Durante a terapia, foi lembrando de detalhes que caracterizam as abduções. Hoje, está até mais tranquilo com a descoberta”.

Já o psicanalista, que trabalha com hipnose, ficou espantado quando fez regressão em uma suposta abduzida. Primeiro, o especialista teve dificuldade em acessar a memória da paciente, por causa de obstáculos chamados barreiras da mente. Quando conseguiu atingir a memória bloqueada, a paciente relatou ter sido conduzida a diversos exames, efetuados por criaturas cinzas, em ambiente desconhecido.

Os dois pesquisadores não se conhecem, mas têm coisas em comum. São sempre consultados por veículos de comunicação para comentarem assuntos cotidianos, que podem ir do adultério ao luto, de transtornos compulsivos a estresse pós traumático. E todos os dois, com ênfase parecida, aceitaram falar do tema abdução impondo uma condição: o nome não poderia ser revelado.

 

FRONTEIRAS DO DESCONHECIDO

Fenômenos extraterrestres rompem os paradigmas da ciência e são mantidos em sigilo

A ilustração, feita pelo ufólogo Alberto Romero, que reconstitui o que teria acontecido em Feira de Santana

Diante de uma tripulação militar estupefacta, uma nave de incompreensível formato triangular executa manobras imponderáveis durante duas horas e meia de voo, seguindo um avião da Aeronáutica. Assim começa o depoimento de um ex-militar da Base Aérea de Salvador, que aceitou contar a este repórter uma série de avistamos de UFOs no período em que serviu à corporação.

Como o compromisso de não ter nome ou características revelados, a testemunha, que será chamado de Aviador Baiano, fez relatos surpreendentes sobre experiências vividas nos céus junto colegas. Durante uma viagem de patrulhamento da costa brasileira, no trajeto entre Rio de Janeiro e Ilha de Itaparica, um objeto voador de aparência e performance sem precedentes na aviação comercial ou militar (o design era misto de cone e pirâmide) escoltou a aeronave mantendo insignificantes cinco metros de distância na maior parte do tempo. “É como se dois carros, a mais de 100km/h, ficassem emparelhados, separados por 30cm”, comparou o Aviador Baiano.

Nas palavras dele, a nave emitia um brilho mais claro que a luz do dia, em tonalidade semelhante a uma solda elétrica. “Se nosso avião adernava para qualquer lado, ele ia junto, sem esboçar nenhum tipo de manobra”, recorda, imitando com as mãos o balé aéreo dos dois equipamentos. “Mesmo estando muito perto, a gente não sentia trepidação, deslocamento de ar ou barulho”, revelou o ex-militar. Formado em engenharia mecânica, ele considera impossível construir uma máquina naqueles moldes com a tecnologia disponível atualmente.

Em uma conversa tensa e desconfiada de aproximadamente 20 minutos, o Aviador Baiano mostrou ilustrações que fez das diversas naves que já avistou: triangulares (maiores, de onde saem as menores), esféricas e discóides. Exigiu o encontro em local público (a praça de alimentação do Aeroclube Plaza Show), numa tarde de dia útil, em que ele avisou apenas alguns minutos antes. Também disse que não precisava se preocupar em encontrar ele, porque ele saberia como encontrar a mim.

Enquanto mostrava desenhos que conseguiu ver na “fuselagem” dos OVNIs, não parou de olhar para os lados. Demonstrava inquietação e avisou que não haveria novo contato para mais detalhes. “Não sei nem porque estou te contando essa história, acho que é para desabafar”, comentou, completando que praticamente todos os colegas da Força Aérea já presenciaram fenômenos semelhantes. “Só que a gente nem conversa sobre isso entre nós, com medo de represálias”, confidenciou.

 

Fim do mundo

Passava pouco das 20h quando os primeiros contatos visuais dos marcianos e suas espaçonaves começaram a ser relatados. Era 30 de outubro de 1938, véspera do Halloween americano, e a invasão começou em uma pequena cidade do estado de New Jersey, chamada Groover´s Mill. Os boletins, em um tensão crescente, eram constantemente atualizados pela rádio CBS e suas afiliadas em todo o território dos EUA.

O locutor comunicou a aparição de cilindros metálicos iluminados. Repórteres passaram a entrevistar moradores que afirmavam ter visto extraterrestres pousando. Especialistas e autoridades deram depoimentos sobre as providências adotadas para conter a invasão. Por fim, os sons de gritos, desespero e destruição não deixavam dúvidas de que a batalha entre humanos e ETs tinha começado.

Sete mil homens marcharam contra a máquina de guerra marciana e todos foram aniquilados. Depois de uma hora, o extermínio era total e o silêncio, absoluto. Os terráqueos tinham sucumbido à ameaça alienígena.

A adaptação do romance A Guerra dos Mundos, do escritor inglês HG Wells, foi um marco da história do rádio e da ufologia. Em todos os EUA, seis milhões de pessoas acompanharam a dramatização radiofônica roteirizada e dirigida pelo jovem Orson Welles (que ficaria ainda mais célebre com a criação de Cidadão Kane, considerado por muitos críticos o melhor filme da história do cinema). Cerca de 1,2 milhão de pessoas não ouviram a advertência antes do programa Radioteatro Mercury de que a transmissão dos 60 minutos seguintes seria uma ficção e tomaram como real a narrativa. O pânico se instaurou nos estados de New Jersey, Nova Iorque e Newark. Uma multidão apavorada abandonou as casas, congestionando ruas e linhas telefônicas. No dia 1° de novembro de 1938, o jornal The New York Times estampava a manchete: “Ouvintes de rádio em pânico tomam drama de guerra como verdade”.

A histeria coletiva provocada por aquele experimento do talentoso Welles é, até hoje, um dos principais argumentos utilizados para explicar as razões de uma política que os ufólogos chamam de acobertamento. Segundo eles, há uma tática de censura, despistamento e ridicularização empregada por governos e entidades militares com o objetivo de negar qualquer relato ou prova que desperte a possibilidade de vida alienígena. “Se hoje aparecermos com uma foto nítida de um disco voador, eles vão dizer que é uma estrela cadente, uma pedra jogada no céu, ou a rena do nariz vermelho, qualquer coisa. Menos admitir que se trata de uma nave extraterrestre”, repudia o ufólogo Emanuel Paranhos. “Isso sem falar na destruição de reputações de pessoas idôneas para tirar o crédito dos relatos”, completa.

Nessa linha, o Aviador Baiano deu seu depoimento com condição de manter-se no anonimato, temendo represálias. Para os ufólogos, os procedimentos militares altamente sigilosos com relação a OVNIs e a uma possível vida em outros planetas foram moldados a partir do famoso Caso Roswell. Em julho de 1947, centenas de testemunhas afirmaram ter vido a queda de um disco voador nas paisagens desérticas de Roswell, estado do Novo México, EUA. De acordo com a pesquisa e entrevistas contidas em livros como Incidente em Roswell (CHarles Berlitz e William Moore) e Dossiê Roswell (Coronel Philip J Corso), o Exército Americano chegou a divulgar release para a imprensa, informando a captura de uma nave e tripulantes extraterrestres. O jornal local publicou, pela primeira vez, a expressão que parecia melhor se adaptar à geometria do objeto: flying saucers, que, numa tradução literal seria “pires voadores”, e que o português notabilizou como disco voador. Após a repercussão, as Forças Armadas negaram o episódio, fizeram um tenente que tinha relatado o fato dizer que se tratava de um balão meteorológico e passou a desacreditar sistematicamente a hipótese. Algo tão impressionante como filmes de ficção. E tem paralelo na Bahia

 

Roswell baiano

Feira de Santana, 12 de janeiro de 1995. Nas primeiras horas da manhã, um telefone de atendimento ao telespectador da TV Subaé foi o instrumento que deu início a uma das mais singulares histórias da ufologia baiana. Do outro lado da linha, uma pesoa identificada como Beto Lima falava para a repórter que tinha uma matéria fantástica, algo relacionado com disco voador e extraterrestre. “Quanto vocês pagariam por isso?”, sondou o interlocutor. O fato foi encaminhado para o repórter José Raimundo, da TV Bahia, que acionou o ufólogo Alberto Romero para saber se valia a pena investigar.

Após três horas de tentativas, o argentino Romero já estava a ponto de desistir do assunto porque ninguém atendia ao telefone deixado como contato. Pouco depois do meio dia, arriscou uma última vez. Uma voz masculina – e nervosa – atendeu. Alberto se apresentou e disse que procurava mais detalhes sobre o assunto comentado, horas antes, com os jornalistas. “Essa madrugada, eu resgatei na fazenda uma nave e dois tripulantes extraterrestres”, resumiu Beto Lima. “O quê??!!”, perguntou o pesquisador, meio incrédulo. O fazendeiro não quis mais dar respostas. Preferiu emendar um questionamento pragmático: “Quanto você vai me pagar pela história?”

Romero retrucou que não poderia pagar sem saber detalhes. Beto Lima contou tudo o que lembrava: “Estava caçando tatu quando, por volta de meia noite, caiu alguma coisa dentro de uma lagoa em minha fazenda. Era do tamanho de um Fusca e ficou boiando perto da margem”. O objeto era esférico e tinha uma aparência totalmente inusitada: ora dava para ser visto perfeitamente, com uma coloração semelhante a ouro, ora parecia sumir, como se fosse feito de espelho refletindo a paisagem. “De repente, uma abertura começou a expelir um líquido gosmento e pude ver duas criaturas com cerca de 90cm de tamanho. A que tinha forma de feto estava morta. O outro, parecendo um bicho-preguiça, gemia bastante”, continuou.

completou dizendo que tinha guardado o aparelho e as criaturas na fazenda. do ceticismo, a impressão do ufólogo passou para o assombro. O tom de voz e os termos usados na conversa não demonstravam que Beto Lima possuísse nível cultural capaz de inventar uma fantasia com tamanha riqueza de detalhes e coerência nas descrições. O fazendeiro disse que se fosse remunerado levaria o ufólogo à propriedade, localizada na estrada entre Feira de Santana e Santanópolis. Em seguida, perguntou como deveria proceder com os seres capturados. Romero aconselhou colocar o morto em um saco plástico dentro de um recipiente com gelo e o vivo em uma caixa com furos de ventilação, frutas e verduras para alimentação.

Romero ligou para outros colegas ufólogos contando que possivelmente tinha o caso do século e preparou a viagem para Feira de Santana. Por volta de 20h30, Emanuel Paranhos, também do grupo UFOBahia, ligou para a casa de Beto Lima, querendo confirmar a ida da equipe ao local no dia seguinte. A mulher do fazendeiro, bastante nervosa, desmentiu o relato, chamando de conversa de bêbado. Finalizou dizendo que, por causa disso, a casa estava cheia de estranhos e que o marido dormia sob efeitos de sedativos.

O caso seria dado como encerrado, se duas novas pistas não tivessem mudado o rumo das investigações. Primeiro, algumas testemunhas afirmaram que, durante um blecaute ocorrido naquela madrugada em Feira e municípios da região, foram visto pelo menos três caminhões do Exército na região da fazenda Gravatá. Após uma longa entrevista à Rádio Sociedade de Feira, em 98, os ufólogos receberam cartas anônimas. Uma delas, de autoria, de um auto-denominado Soldado Brasileiro, relatava uma operação militar ocorrida na madrugada de 12 de janeiro de 95, envolvendo caminhões (um deles, frigorífico) e helicópteros ,que teriam resgatados pedaços de metal brilhante e dois seres: um era um bicho agonizante, outro parecia uma criança entre 6 e 7 anos, aparentando estar sem vida.

Como detalhe mórbido, o Soldado Brasileiro ressaltou que um dos colegas fez o sinal da cruz ao ver de perto as criaturas. O animal era mais feio que uma preguiça e o morto tinha a cara de um bebê recém nascido, só que de tamanho bem maior. Outra testemunha, chamada Soldado X, disse que na operação foram feitos três cordões humanos de isolamento concêntricos. Uma das ordens era de atirar em que não tivesse autorização para ultrapassar a cancela da fazenda. As cartas manuscritas continuam em poder dos ufólogos.

A versão oficial do 35° Batalhão de Infantaria, em Feira, reiterada sempre que o assunto é cogitado, é de que não houve nenhuma operação militar naquele período. Entretanto, vaqueiros e moradores da região de Santanópolis garantem ter visto um comboio militar naquela manhã e, à tarde, um helicóptero sobrevoando as fazendas a baixa altitude.

Beto Lima, empresário, militar da Marinha reformado e candidato a vereador derrotado em Feira, estranhamente, se tornou avesso ao assunto, a ponto de ter reações coléricas quando abordado por Romero e Paranhos, em 1998. Em sua residência de classe média alta, não recebe a imprensa. Eu e o fotógrafo Alberto Coutinho conseguimos localizá-lo em um dos seus estabelecimentos comerciais: um mercadinho um pouco afastado do centro da cidade. No andar de cima, numa tarde de calor, ao lado de dois amigos, ele atendeu a nossa equipe, identificada pelo carro de reportagem e pelos crachás.

Falante, quase histriônico no início, mudou completamente de fisionomia, quando questionado sobre os acontecimentos daquele 12 de janeiro de 1995. “Ainda essa história? Não falo nada sobre esse assunto”, decretou, de cara amarrada. “E eu pensando que vocês tinham vindo até aqui para dizer que ganhei algum prêmio do Correio da Bahia”, falou, em volume alto, antes de dar uma gargalhada exagerada. A partir daí, passaram-se muitos minutos, quase uma hora, de uma conversa que parecia um monólogo, oscilando entre realismo fantástico, temas de ocultismo e tentativas de criar uma atmosfera meio assustadora, como se estivéssemos na antessala de um desfecho para um filme de Hitchcock ou de John Carpenter.

Eventualmente, havia alguma provocação com a calvície quase completa do fotógrafo Coutinho: “Tá vendo aí, careca, o cara quer saber daquela história”, seguida de mais gargalhada. Ao final dessa tentativa de diálogo, testemunhada também pelo amigo de Beto Lima e outro funcionário, que parecia alheio, às voltas com uma planilha no computador, ele encerra o encontro com uma frase tão simples quanto enigmática: “Você sabe como se caça tatu? Tem que sair para o mato de madrugada”.

 

CIDADES EM ÓRBITA

Relatos de avistamento podem mudar a vida pacata de municípios do interior

Em Mucugê, uma segunda-feira após noite e madrugada inteira de festa pela inauguração da praça em homenagem aos garimpeiros, o clima é de ressaca. Boa parte dos quatro mi habitantes da zona urbana ainda dorme. Outros preferem ficar em casa, protegidos do sol inclemente de meio dia.

Na praça, entre as poucas pessoas, quatro travestis se destacam. Depois de uma madrugada dançando forró, aguardam, exaustas a chegada de um ônibus para levá-las à cidade de origem. No único restaurante aberto para almoço, a jovem garçonete ainda comenta sobre os eflúvios amorosos no evento do dia anterior, que atraiu mais de dez mil pessoas dos municípios vizinhos. Quando o assunto é mudado para os fenômenos que ocorriam nas serras da região em meados da década de 90, o semblante da moça passa para a decepção. “Ah, os ETs? Eles nos abandonaram, num mais apareceram, nem deram notícia”, murmura, como namorada traída.

Dois ciclos modificaram os cotidiano da pequena Mucugê, encravada na Chapada Diamantina, a 500km de Salvador. O primeiro, do garimpo, foi responsável pela transformação do povoado em cidade, gerando riqueza com a extração dos diamantes. No início da década de 1990, começa a fase ufológica, que movimentou, de forma ainda que efêmera, o turismo na região. Da mesma forma que atualmente muita gente vai para a cidade conhecer grutas, cachoeiras e trilhas ecológicas, na época, as visitas eram na esperança de avistar discos voadores ou ver alguma criatura inusitada, de cabeças e olhos proeminentes, mesmo que à distância.

A fase passou, para lamento da garçonete Liz, saudosa dos dias agitados do período alienígena de Mucugê. Ficaram apenas os relatos.

 

Escolta cósmica

O rádio já transmitia os minutos iniciais da modorrenta Voz do Brasil. Foi ao ouvir os acordes de O Guarani, de Carlos Gomes, que Antônio Carlos de Oliveira percebeu que já passava pouco das 19h. Na antiga estrada de cascalho que mais separava do que unia os municípios de Mucugê e Andaraí, o caminhoneiro retornava de um frete para Salvador.

Reconheceu, ao longe, 12 cabeças de gado atravessando a pista. Começou a alternar a luz alta do farol para tentar afugentar os bois. Não teve jeito. Precisou parar o caminhão e tanger o pequeno rebanho em direção à cerca. Voltou para a boleia, engatou a primeira marcha e saía lentamente quando viu um enorme clarão acima da carroceria. “Não posso virar este caminhão”, exclamou, supondo a iminência de um acidente.

O motorádio desligou sozinho. Sem uma melhor ideia para a situação, Antônio Carlos continuou a dirigir em baixa velocidade. Dois quilômetros adiante, a luz sumiu. O rádio voltou a noticiar as novidades da Câmara e do Senado.

Vinte e sete anos atrás, Antônio Carlos de Oliveira, caminhoneiro há 30, teve esta primeira experiência incomum nas cercanias de Mucugê. Desde então, garante que constantemente recebe escoltas luminosas em suas viagens de trabalho. Desistiu de contar para vizinhos e amigos, porque boa parte diz que não passa de invenção. Ou então, história de cachaceiro. Há alguns anos, Antônio Carlos, que só dirige sóbrio, teve a confirmação que precisava sobre estar delirando ou não.

Transportava dois tratores na carroceria e, quando chegou perto da serra do Capabode, começou a sentir um calor na cabine. Era madrugada e ele sabia que o aumento repentino de temperatura não era bom sinal. Começou a rezar e “chamar por Jesus Cristo”. A operação não impediu a aparição do clarão (sempre com uma cor de solda elétrica, “só que 50 mil vezes mais forte”) e o pânico do caminhoneiro foi multiplicado. Continuou dirigindo, orando e pedindo saúde para a família, provavelmente considerando a possibilidade de não sobreviver.

Como a luz não fazia mais nada além de acompanhar, acalmou-se. “Meu Deus, eu não posso estar ficando maluco”, pensou, tentando relaxar. E resolver fazer um teste para averiguar a lucidez. “Se essa luz for um disco, que se apague”, mentalizou. Imediatamente, a madrugada ficou escura por alguns segundos e voltou a se iluminar com o potente holofote, ora azulado, ora avermelhado, ora dourado.

O choque do motorista foi tão grande que lembra de sentir um gosto salgado na boca. A ponto de, anos depois, relembrando o momento nessa entrevista, não contar a sensação de pavor e derramar algumas lágrimas. Naquele momento, ele dissipou duas dúvidas: a de que estava enlouquecendo e a de que a luz seria o espírito do pai falecido. Com o caminhão pesado e a estrada precária, a velocidade máxima era de 20km/h, impondo duração de três horas ao trajeto de 55km. Durante todo esse caminho, o percurso de Antônio Carlos foi iluminado.

Em Mucugê, ele não é exceção. Os 13 mil habitantes das zonas urbana e rural estão divididos entre um bom número que relata experiências místicas ou ufológicas na Chapada, uma maioria que nada viu mas acredita em visitas de outros planetas e uma reduzida parcela que permanece cética. Neste último grupo, está o ex-garimpeiro Euvaldo Ribeiro, 80 anos, o Vadinho. “Em quase 50 anos percorrendo essas serras, nunca vi nada. Por isso, acho que é tudo culhuda de Lói e de outros mais”, polemiza o respeitado decano, um dos homenageados com a construção da praça.

O empresário Aloísio Paraguassu, o Lói, assegura que foi uma das testemunhas do fenômeno UFO. O filho dele, Hitlei Paraguassu, terminou construindo, com isopor e lâmpadas pequenas um boneco imitando o que seria um alien baixinho, cabeçudo e acinzentado. E alguém afirma ter visto uma criatura destas por aqui, seu Lói? “Não, mas levamos este boneco para representar o município em uma Caminhada Axé que aconteceu em Salvador”, comemora.

O certo é que, conversar para turista ou não, muitas histórias terminaram sendo incorporadas ao folclore local. Uma delas foi o falecimento do bancário Júlio Antonio de Souza Bastos, às 22h30 de 31 de outubro de 1995 (Dia das Bruxas), fulminado por um infarto agudo de miocárdio, como atesta a certidão de óbito. Obcecado em filmar algum OVNI, ele passou a ficar noites e madrugada na Serra do Capabode, tentando um registro. Em uma dessas ocasiões, não resistiu a alguma emoção e terminou falecendo de ataque cardíaco, com apenas 38 anos. Muita gente diz que ele gritou dizendo estar vendo algo surpreendente pela lente da câmera. Se foi ET, nem a filmagem (que mostra algumas luzes difusas no céu da Chapada) é capaz de confirmar.

 

Disco voador estacionado

No mundo todo, a ufologia movimenta cifras até hoje incalculáveis com filmes, livros, revistas, souvenirs. Em Roswell, a cidade americana onde afirmam ter caído nave tripulada em 1947, o turismo é unicamente com motivos siderais, o que inclui venda de bonecos, chaveiros e cartões postais. Na Bahia, as cidades que concentram narrativas ufológicas fizeram pouco estardalhaço em torno de suas vocações cósmicas.

Quem passa pela Estrada do Feijão (BA052), na saída de Morro do Chapéu, a 386km da capital, pode até levar um susto ao ver um disco voador estacionado em uma propriedade na beira da rodovia. É lá a residência do pesquisador Alonso Valdi Régis, um ex-seminarista e ex-bancário que, depois de viver uma experiência sobrenatural em 1952, no Recife, começou a se aprofundar na ufologia.

Morando em plena Chapada que centraliza, segundo especialista, 60% dos casos ufológicos da Bahia (outros 20% estão nas redondezas de Feira de Santana, e os 20% restantes espalhados pelo estado), Régis resolveu construir uma réplica de 8m de diâmetro com a mesma aparência da nave que viu na infância em Pernambuco e que foi noticiada pela revista O Cruzeiro – a maior em circulação nacional.

O pequeno sítio se transformou na sede do Círculo de Pesquisa Porto Cristal, divulgado como ponto turístico por folders da prefeitura local. Mais interessado em pesquisa do que em turismo, o jornalista e escritor Pablo Villarrubia Mauso esteve em Morro do Chapéu para conhecer Alonso e os fenômenos da região no mesmo período em que fui lá. Nascido em São Paulo, com dupla nacionalidade, brasileira e espanhola, Villarrubia já percorreu 25 países em busca de subsídios para reportagens e livros sobre temas esotéricos e ufológicos.

No período de 16 dias que passou na Bahia, conheceu relatos semelhantes aos que já ouvira na Argentina, México e outros estados do Brasil. “Algumas luzes têm comportamentos regulares, são constantemente observadas por moradores e até seguem alguns deles”, revela Villarrubia, que recentemente lançou o livro Mistérios do Brasil: 20.000km através de uma geografia oculta, sobre fenômenos na região Amazônica.

“Posiciono-me como jornalista e não como ufólogo e os relatos no interior da Bahia são impressionantes”, confirmou. O escritor, residente em Madri há 12 anos, identificou casos que devem ser a base para um novo livro. “No distrito de Santo Inácio, em Gentio do Ouro, um descendente de quilombolas afirmou que um homem se locomovia como se estivesse flutuando, sem usar as pernas. Em Xique-Xique, há menos de um ano, as pessoas garantem ver naves com formato de disco”, resume. Também identificou uma casuística grande na estrada que liga os municípios de Central e Irecê. “Os motoristas têm medo das luzes de um tal caminhão fantasma”, completa.

Em Morro do Chapéu, o criterioso e culto Alonso Valdi Régis investigou um avistamento coletivo e não tem dúvidas de que era uma nave espacial. Aconteceu em 24 de novembro de 1994. Em um hábito muito comum nos municípios pequenos da Bahia, dona Nelsonita Almeida de Oliveira conversava tranquilamente com os vizinhos no calçada de casa, em um bairro afastado do centro da cidade. Era noite, antes da última novela da Globo, cujo início do capítulo determinaria imediatamente o fim do papo animado. De repente, um dos presentes apontou para o céu: “Olha, onde vem um avião”. Todas as 20 pessoas começaram a observar a aproximação da luz até ela chegar bem perto. Aí perceberam que não podia ser um avião, porque estava planando a três metros de altitude, parado em cima de um campo de futebol de várzea (hoje, uma horta). Não dava para identificar o formato, apenas que a luz produzia um foco pouco menor que um carro e, de perto, alternava as tonalidades entre lilás, amarelo, azul e vermelho.

A noite fria em Morro do Chapéu se transformou numa “quentura abafada”, sentida até porque estava a uma centena de metros do local. O calor repentino emanado pela luz fez com que alguns , temerosos, entrassem em casa. Outros se aproximaram para ver o que estava se passando. Religiosa, católica, dona Nelsonita ficou com vontade de ver mais de perto o que tinha dentro. Depois de dez segundos, a luz saiu lentamente, piscando todas as cores até sumir no espaço. E deixou em dona Nelsonita, viúva, pensionista, com filhos en netos, a tristeza por não descobrir o que era aquilo. “Poderia ser um fantasma, o espírito do Santos Dumont e de seu avião. Mas acho que tinha pessoas vivas, não desse mundo, porque se fosse da Terra baixava”, aposta, comungando da franqueza interiorana.

Lá fora, o cosmos repleto de mistérios insondáveis para ser explorado. Só que dona Nelsonita, assim como todo mundo em Morro do Chapéus, preferiu não gastar muito tempo com especulações. A novela já tinha começado, com seu enredo de seguro – de tão familiar.

 

Publicada, originalmente, no Correio da Bahia, edição de 29 de dezembro de 2002

 

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