Caetano Veloso é contra BRT, prefeitura de Salvador reage com cartilha e chama críticas de “fake news”

A comunicação da Prefeitura de Salvador tem se desdobrado nos últimos dias para gerenciar a crise provocada por críticas ao projeto do BRT, sobretudo após o ingresso do cantor e compositor Caetano Veloso no movimento.

Uma cartilha divulgada por whatsapp, nesta quarta (9), responde às perguntas mais frequentes sobre a proposta e diz que alguns pontos, como a derrubada de árvores, “estão sendo questionados com a utilização das chamadas fake news”.

Na noite desta terça (8), o blog publicou, com exclusividade, vídeo gravado por Caetano em que ele diz que “não se pode aceitar que se cortem árvores centenárias e que se danifique a paisagem urbana de Salvador, por uma opção de progresso duvidoso”.

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O secretário municipal de Mobilidade, Fábio Mota, minimizou dizendo que as críticas seriam por desconhecimento do projeto.

Tem gente entrando numa onda de boatos e notícias falsas sobre o BRT sem nem procurar se informar sobre o projeto, inclusive pessoas conhecidas que nem em Salvador mora. Esse é um projeto que vai resolver em definitivo problemas de mobilidade e de infraestrutura em uma das áreas mais movimentadas da cidade. É um projeto voltado para os mais pobres, beneficiando diretamente 340 mil pessoas”, declarou.

A cartilha nega que pontos importantes das acusações, como o suposto desmatamento de 577 árvores, o custo de R$800 milhões e o insinuado percurso, que seria o mesmo do metrô.

A prefeitura afirma ainda que serão gerados 1,5 mil empregos diretos e que o sistema vai beneficiar a população mais pobre da cidade.

Leia o conteúdo completo da cartilha:

Estão espalhando muitas informações inverídicas sobre o BRT, principalmente através das redes sociais. Visando esclarecer os principais pontos que estão sendo questionados com a utilização das chamadas fake news, a Prefeitura listou os temas abaixo sobre o projeto a título de esclarecimento. Na primeira fase, o projeto do BRT, que vai muito além de um transporte público de massa, pois também envolve intervenções em mobilidade e infraestrutura urbana, vai fazer a ligação entre o Parque da Cidade e a região da rodoviária. Abaixo os temas relacionados:

– O BRT não é igual ao ônibus comum

O BRT é um ônibus articulado de 23 metros de cumprimento, climatizado, com capacidade de beneficiar 31 mil pessoas por hora em horários de pico, isso com mais conforto, segurança, comodidade e agilidade do que o sistema convencional, pois vai circular em vias segregadas de tráfego, sem passar por semáforos ou pegar engarrafamento. Em circunstâncias normais, o BRT nunca irá atrasar. Cada veículo do BRT (sigla em inglês para “ônibus rápido”), que terá velocidade máxima de 40km/h, poderá transportar até 170 passageiros por viagem. O acesso a um veículo do BRT será via estação própria, com paradas programadas e monitoradas via GPS, com acesso via plataforma e através de portas largas, favorecendo o rápido embarque e desembarque, ao contrário do que acontece no sistema convencional em horários de pico.

– O BRT não é um sistema de transporte ultrapassado

O BRT é um sistema moderno, em operação atualmente em 167 cidades do mundo (ver https://brtdata.org/panorama/expansion), em diversificados níveis de desenvolvimento e em todos os continentes. Além disso, em outras 55 cidades do globo o BRT está em franca expansão. E em outras 121, incluindo Salvador, está em fase de projeto ou implantação. Isso coloca por terra o discurso de que o BRT, que foi inventado em Curitiba e usa tecnologia 100% nacional, é ultrapassado. Ele leva várias vantagens sobre os transportes sobre trilhos: é mais barato, mais rápido de ser implantado, é mais versátil e é mais fácil de ser operado. Leva grande vantagem em relação ao VLT, por exemplo.

– A cidade precisa sim do BRT

O BRT, que vai gerar 1,5 mil empregos diretos, irá beneficiar os mais pobres, aqueles que diariamente utilizam ônibus convencional na cidade e demandam um transporte de massa de melhor qualidade. Todos os dias, 340 mil pessoas utilizam o ônibus na região por onde vai passar o primeiro BRT de Salvador (avenidas Vasco da Gama, Juracy Magalhães e ACM), através de 68 linhas em operação. Com o BRT em operação, todos esses passageiros levarão apenas 16 minutos para sair da Lapa e chegar à região da rodoviária, onde haverá a integração entre o novo modal e o metrô. E o mais importante: o projeto prevê investimentos em mobilidade, saneamento (micro e macro drenagem) e infraestrutura que irão melhorar em definitivo a vida de quem mora ou transita por essa região de Salvador. Todos vão ganhar e poderão trafegar de forma mais rápida e segura, tanto quem utiliza transporte público quanto o automóvel ou a bicicleta para se locomover. O BRT é apenas a última etapa de um projeto maior de infraestrutura urbana e mobilidade na cidade.

– O projeto do BRT vai além de um modal de transporte

O projeto do BRT de Salvador não se limita à implantação de um novo modal de transporte público. Trata-se de um investimento em transporte, mobilidade, infraestrutura e saneamento (drenagem). Antes do BRT entrar em operação, serão implantados viadutos que irão resolver antigos gargalos de trânsito, com a eliminação de semáforos, retornos e cruzamentos. Exemplo: após a conclusão das obras, será possível sair da Garibaldi e chegar à Avenida Paralela sem pegar um único semáforo. Um dos viadutos mais importantes será implantado agora na primeira fase, entre o Parque da Cidade e o Cidade Jardim, facilitando a vida de quem sai do Itaigara e quer se dirigir ao Lucaia, resolvendo um problema crônico de trânsito na cidade. Nesta primeira fase, serão três viadutos e dois elevados. Os elevados irão abrigar pistas expressas de tráfego e estações sem necessidade da construção de passarelas. Além disso, os investimentos em drenagem irão resolver em definitivo problemas de alagamento em épocas de chuva nas avenidas Juracy Magalhães e ACM, o que é uma demanda antiga da cidade. Como se vê, o projeto é muito maior do que colocar um BRT para rodar e é muito mais complexo e estruturante do que o executado na maioria das cidades que implantaram o novo modal. Para se ter uma ideia, os viadutos equivalem e as obras de saneamento são responsáveis por cerca de 78% dos recursos totais do projeto (o BRT em si fica com 22%).

– O projeto do BRT não vai custar R$800 milhões

O valor de R$820 milhões corresponde ao que a Prefeitura obteve para chegar ao limite de crédito para financiar a obra inteira (corredores exclusivos, drenagem, viadutos e elevados), que conta com recursos de empréstimo da Caixa Econômica, do Orçamento Geral da União (OGU) e de contrapartida do próprio município. Ou seja, esse valor não é o que de fato será gasto. Exemplo: para o primeiro trecho (do Parque da Cidade à região do Shopping da Bahia), que já está em obras, o valor previsto era de R$377 milhões, mas, após a licitação, o montante ficou em R$212 milhões.

– Os viadutos e elevados do BRT são necessários

São os viadutos que irão permitir a eliminação de semáforos, retornos e os chamados trechos negativos de trânsito, quando os veículos circulam na “contramão” da via para fazer um retorno. Isso porque o projeto foi pensado tanto para quem vai andar no BRT quando de carro ou bicicleta. O trânsito vai fluir melhor graças aos viadutos e elevados, diminuindo o tempo de deslocamento das pessoas. Além disso, o conceito das estações nos elevados vai facilitar a acessibilidade e a integração com os ônibus convencionais. Por conta dos elevados, o cidadão terá acesso às estações sem precisar passar por passarelas, de forma mais segura, utilizando escadas, elevadores e rampas. Fosse um VLT ou metrô, modais que seriam mais caros, mais demorados de serem construídos e que causariam um impacto muito maior na cidade do ponto de vista urbano, os viadutos e elevados também seriam necessários.

– O metrô não já faz o percurso do BRT

Quem diz isso age de má-fé. O BRT vai ligar, quando estiver pronto, a Estação da Lapa à região do Shopping da Bahia, fazendo a integração com o metrô nas duas “pernas”. Só que ele vai passar por avenidas por onde o metrô não passa, com muito mais densidade populacional: a Vasco da Gama, a Juracy Magalhães e a ACM, beneficiando diretamente 340 mil pessoas que utilizam transporte público. É uma quantidade de pessoas beneficiadas maior do que aquela que utiliza diariamente o metrô. Ou o morador do Nordeste de Amaralina, Candeal, de Santa Cruz, do Vale das Pedrinhas, do Vale das Muriçocas, só para citar alguns exemplos, não merece ter acesso a um transporte público de massa perto de casa? Além disso, o BRT e o metrô serão complementares, e não competidores.

– Outras soluções teriam impacto maior, como o VLT

Qualquer que fosse o modal de transporte escolhido pela Prefeitura haveria impacto urbano e ambiental. Se a opção fosse por um transporte sobre trilhos, viadutos e elevados também precisariam ser construídos, como aconteceu ao longo da Avenida Paralela ou Bonocô. E por que a opção pelo BRT ao invés do VLT? A Prefeitura estudou a possibilidade de implantar um VLT ao invés de um BRT. Só que o VLT seria 15% mais caro e levaria o dobro do tempo para ser implantado, além de necessitar de passarelas e galpões de estoque, o que obrigaria a Prefeitura a suprimir uma quantidade de árvores maior, a exemplo do que fez o metrô na Paralela. Além disso, o BRT pode ser expandido de forma mais fácil e rápida do que qualquer transporte sobre trilhos, o que vai acontecer em Salvador. O Plano Municipal de Mobilidade já prevê outras sete linhas de BRT passando por áreas como o Subúrbio e o Centro da cidade. E mais: ao contrário de qualquer transporte sobre trilhos, o BRT pode ter linhas extensivas, ou seja, os ônibus rápidos podem deixar, em determinados momentos, as vias exclusivas e segregadas para pegar passageiros em outros pontos, o que vai acontecer, por exemplo, entre a região do Itaigara e a Pituba, numa terceira fase do projeto.

– O BRT não vai desmatar 577 árvores

É fake news! Até porque esse número equivale a praticamente o total de árvores e vegetais que existem entre a Lapa e a região do Shopping da Bahia (579). Em função das obras, 154 árvores e vegetais precisarão ser suprimidos na primeira etapa. Outras 169 serão árvores e outros vegetais (a exemplo das palmeiras e coqueiros) serão transplantados para o entorno do próprio BRT. Nesse trecho da primeira fase das obras, entre o Parque da Cidade e a região do Shopping da Bahia, existem 347 árvores e outros vegetais. Ou seja, a maioria da vegetação será salva ou preservada. Vale frisar ainda que não existem árvores seculares por onde o BRT vai passar. Toda a vegetação existente foi fruto de projeto paisagístico quando a construção dessas avenidas. Como política de compensação, 2 mil novas árvores de espécies exóticas da Mata Atlântica serão plantadas na cidade como política de compensação exigida pela Prefeitura ao Consórcio BRT, responsável pelas obras, sendo aproximadamente 1,7 mil no entorno do novo modal.

– O BRT tem licenças ambientais

O BRT é um projeto perfeitamente legal, tanto que obteve financiamento externo, respaldado em diversas leis municipais, pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e pelo Plano Diretor de Arborização Urbana de Salvador. Foi feito o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima), o mais importante, completo e complexo estudo de viabilidade ambiental que existe, precedido de inúmeras audiências públicas realizadas com a sociedade, inclusive na sede do Ministério Público da Bahia, que acompanhou todo o processo de licenciamento prévio, que fora convalidado e concedido pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam).

– O projeto precisa envolver os canais

Os canais por onde o BRT vai passar já sofreram intervenções urbanísticas há muito tempo e os rios já foram, inclusive, encapsulados e desviados, recebendo esgotos, lixo e provocando alagamentos em épocas de chuva, se tornando um problema para a cidade. As intervenções de drenagem, que correspondem a parte importante do orçamento para a implantação do projeto do BRT, são necessárias porque irão resolver em definitivo os problemas de alagamento em vias como as avenidas Juracy Magalhães e ACM, o que é uma demanda antiga da população de Salvador, tanto de quem anda de transporte público quanto de carro, a pé ou de bicicleta. Além disso, o BRT não pode trafegar em trechos que podem vir a alagar.

– O BRT foi discutido com a sociedade

Foram realizadas, em 2017, quatro audiências públicas sobre o BRT, cujo projeto contou com ampla cobertura da mídia. Duas delas obrigatórias, previstas no processo de licenciamento, e mais duas que não eram obrigatórias, uma no Ministério Público da Bahia e outra na Assembleia Legislativa. Além dessas audiências, a Prefeitura fez várias apresentações públicas na Bahia e em São Paulo em várias reuniões com diversas entidades para discutir o projeto. O próprio prefeito ACM Neto participou desse processo.

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