Puxa papo no elevador sobre o clima? Leandro Karnal te acha bem pouco inteligente

Para o filósofo, professor, escritor e palestrante Leandro Karnal, aquela conversa despretensiosa sobre o calor é um bom sintoma de falta de inteligência.

Pra conviver bem com as pessoas, precisa estar mais ou menos no mesmo plano civilizacional que elas. Por isso que as pessoas simples são mais sociáveis e ficam muito felizes com experiências muito singelas de conversa”, diz o gaúcho, de 55 anos, em um vídeo postado no canal Saber Filosófico, cujo título é

[su_quote]  “Quanto mais inteligente menos sociável”.[/su_quote]

“À medida que vocês forem lendo mais e mais, à medida que vocês não conseguirem viajar sem um livro, à medida que vocês forem entrando na descoberta da literatura, vocês vão descobrir uma outra coisa: vocês vão ficando mais exigentes com as pessoas“, diz ele, autor de nove livros publicados, além de inúmeras participações em programas de televisão, sites e palestras.

Veja o vídeo:

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O discurso completo de Karnal:

“Para me consolar no meu estágio intermediário de inteligência, eu pensei: Van Gogh se matou, Clarice Lispector era uma pessoa atormentadíssima, segundo a biografia recente de Benjamim Moser. Porque dotada dessa capacidade de visão, ela tinha uma dificuldade extrema de convívio com as pessoas.

Porque pra conviver bem com as pessoas precisa estar mais ou menos no mesmo plano civilizacional que elas. Por isso que as pessoas simples são mais sociáveis e ficam muito felizes com experiências muito singelas de conversa.

À medida que vocês forem lendo mais e mais, à medida que vocês não conseguirem viajar sem um livro, à medida que vocês forem entrando na descoberta da literatura, vocês vão descobrir uma outra coisa: vocês vão ficando mais exigentes com as pessoas.

E aquela conversa: “tá quente hoje”; “será que vai chover”; “nossa, é muito cedo para esse calor, o tempo está maluco”; “que jogo ontem”: “e a política, tudo uns ‘ladrão’ (sic)”.

À medida que eu vou enunciando essas orações absolutas, assindéticas, fáticas, eu vou entrando numa capacidade de enunciar o mundo como ele é: está quente hoje em Porto Alegre. Mas à medida que eu vou lendo Coração das Trevas, de (Joseph) Conrad, eu vou me sentindo um pouco Kurtz, e isso me remete ao filme inspirado nesse livro, Apocalipse Now, e o Kurtz se transforma em Marlon Brando.

E a minha cabeça deu dez voltas, enquanto alguém diz: tá quente hoje, nossa, que calor! Isso me prova mais feliz? Provavelmente, não. Intelectuais e pessoas muito versadas raramente são felizes.”

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