EXCLUSIVO! Guilherme Boulos: “Lula foi econômico ao falar em 300 picaretas, o Congresso tem uns 420”

Guilherme Boulos é formado em filosofia e psicanálise e sabe que a comunicação vai muito além das frases que enuncia para o público. Utiliza cada momento de entrevista como uma chance de marcar o posicionamento – não apenas o ideológico. A postura é firme ao falar, a entonação é vibrante, quer transmitir energia. E também, talvez mais do que tudo, quer deixar claro que não pretende nenhuma trégua ao status quo.

O cartão de visitas do mais jovem pré-candidato na disputa tem frases capazes de enrubescer até o mais inflamado dos socialistas atuais: “Esse sistema político, essa forma de fazer política não nos representa. Representa a 1% de oligarquias, de donos de bancos, que sequestraram o estado brasileiro”;

“Se ganharmos as eleições, vamos convocar um plebiscito capaz de revogar as medidas desastrosas tomadas por esse governo Temer”;

Esse mercado já mandou demais no Brasil. Estou preocupado com o que a maioria do povo brasileiro quer. Não vamos governar para 1%, vamos governar para 99%”

O pré-candidato do Partido Socialismo e Liberdade integra a coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, ao qual ingressou em 2002. Durante a Copa do Mundo de 2014, teve notoriedade nacional ao participar de mobilizações e protestos. Recentemente, nos dias que antecederam à prisão de Lula, Boulos ficou no centro das atenções, junto com a comunista Manuela D´ávila, por sempre aparecer próximo ao ex-presidente durante as vigílias no sindicato dos metalúrgicos do ABC.

Mesmo assim, ele demonstra uma discordância com o petista. “Já tive oportunidade de fazer as críticas ao ex-presidente Lula, de forma transparente, em inúmeras oportunidades. Tenho o maior respeito por ele, e acho que ele está sofrendo uma sacanagem, uma condenação sem provas, uma prisão política. Agora, temos críticas, ele precisava ter enfrentado o privilégio dessa turma, sim. O mercado vive de privilégios.”

A outra divergência é numérica: Boulos discorda dos “300 picaretas com anel de doutor” do Congresso, uma frase de Lula que ficou notória ao integrar a letra de uma música do Paralamas do Sucesso.

Acho que naquela época o Lula foi até econômico. Hoje tem uns 400, pelo menos, 420, temos que refazer os cálculos para chegar exatamente a esse número”.

 

Atualmente, o Congresso Nacional conta com 594 parlamentares, sendo 513 deputados e 81 senadores.rnrnPor uma questão de meses, Boulos estaria impedido da candidatura. Isto porque a legislação eleitoral só autoriza candidatos à Presidência acima de 35 anos. Ele completa 36, em 19 de junho, e gosta de se apresentar como o mais jovem pré-candidato a presidente da história.

Veja a entrevista completa aqui:

DESCONHECIMENTO PELO ELEITOR

Hoje, no Brasil, pra quem quer fazer política de outro jeito você não ter um índice de conhecimento como alguns políticos não é fundamental. Eu prefiro ser conhecido só por 17% do que ter taxa de 99% de conhecimento, como o Temer, e ser rejeitado por 98%. Nós vamos ter oportunidade de apresentar nossas propostas pelas andanças no país afora. Vamos poder conhecer a realidade, escutar o povo, e falar com propriedade sobre o que eles querem.

INSATISFAÇÃO GERAL

Essas mesmas pesquisas estão mostrando que praticamente metade do eleitorado brasileiro quer votar branco, nulo, ou não sabe em quem vai votar. O povo brasileiro está profundamento indignado com esse sistema político. Há uma crise de representação: há um verdadeiro abismo entre o poder de Brasília e o Brasil real. E vamos combinar que o povo tem suas razões para não se sentir representado. Essa forma de fazer política representa 1% de oligarquias, de banqueiros, de grandes interesses econômicos que sequestraram o estado brasileiro.

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BIG BROTHER POLÍTICO

O Brasil não tem que seguir modelo, o Brasil tem que andar com as próprias pernas. Nós temos países como Uruguai, Suíça e Austrália, que estimularam algo que nós precisamos adotar aqui: modelo de democracia direta e participativa. Não pode ser você apertar botão a cada quatro anos e acabou. Senão, vira igual àquele programa Big Brother, que você escolhe quem sai ou quem fica na casa, mas não vota o que acontece na casa. O brasileiro quer decidir o que acontece na casa. Para isso, temos plebiscito, referendo, que o povo possa participar da democracia não apenas a cada quatro anos.

REFORMAS DE TEMER

Se nós ganharmos essas eleições, no dia 1° de janeiro de 2019, nós vamos chamar o Congresso para convocar um plebiscito capaz de revogar as medidas desastrosas tomadas por esse governo Temer que em dois anos fez o Brasil andar 50 anos para trás.

ANTI-MERCADO

O mercado já falou e já mandou demais. Está na hora de ouvir o povo. O mercado é o dono do Bradesco, dono do Itaú, dono do Santander, que cobram juros exorbitantes, são os grandes fundos financeiros que especulam com o dinheiro aqui para mandar tudo lá para fora. Esse mercado já mandou demais no Brasil. Estou preocupado com o que a maioria do povo brasileiro quer. Não vamos governar para 1%, vamos governar para 99%.

REFORMA TRIBUTÁRIA

Já tive oportunidade de fazer as críticas ao ex-presidente Lula transparente, em inúmeras oportunidades. Tenho o maior respeito por ele, e acho que ele está sofrendo uma sacanagem, uma condenação sem provas, uma prisão política. Agora, temos críticas, ele precisava ter enfrentado o privilégio dessa turma, sim. O mercado vive de privilégios. O estado brasileiro é um Robin Hood ao contrário: tira dos pobres ou classe média, por um sistema tributário injusto, e dá aos ricos, por uma taxa de juros muito acima do justificável. Nós vamos fazer uma reforma tributária para que quem tem mais pague mais. Vou dar um exemplo curto e grosso: quem tem carro, paga IPVA todo ano; quem tem jatinho, helicóptero, iate, não paga um real de imposto. Então, vamos tirar de quem tem. Basta do povo pagar sempre, está na hora do andar de cima pagar a conta.

A DIREITA BRASILEIRA

A direita no Brasil hoje é porrada, xingamento na internet e ameaça. Quem dá o tom da extrema direita é um cidadão igual a Jair Bolsonaro. Daí, você já tira a média. É muito difícil encontrar interlocutores de direita no Brasil, em torno de ideias, não em torno de xingamentos ou pancadas, como tem sido feito. Nós temos uma prática de direita que está descambando para a barbárie. O que começou como xingamento no facebook virou tiro, matou a Mariele no Rio de Janeiro.

PARLAMENTARISMO, NÃO

O parlamentarismo, no meu ponto de vista, não é o caminho. Se nós tivéssemos o parlamentarismo no Brasil, três anos atrás, o primeiro ministro seria o Eduardo Cunha. Sobre o parlamento brasileiro, nós precisamos mudar as regras de eleição. Esperamos que tenha uma renovação parlamentar significativa, porque temos o Congresso desmoralizado. Mas as regras são muito desiguais, favorecem quem tem mais dinheiro e fortes financiadores de campanha eleitoral. Quem recebe esse financiamento defende o interesse não do eleitor, mas do financiador. E formam verdadeiras máfias no Congresso Nacional.  Tentaram por diversas vezes impor o parlamentarismo no Brasil. O povo rejeitou o parlamentarismo. Agora. volta esse debate pela porta dos fundos do STF, de uma maneira sorrateira, com o ministro Alexandre de Morais, articulado com Gilmar Mendes, articulado com Temer. Isso tem que ser combatido como mais um ataque democrático no Brasil.

400 PICARETASrnrnAcho que naquela época o Lula foi até econômico quando disse que eram 300 picaretas. Acho que hoje tem uns 400, pelo menos, 420, temos que refazer os cálculos para chegar exatamente a esse número.

TAXAÇÃO DE FORTUNAS

A lei tem que ser seguida, mas uma lei que careça de legitimidade tem que ter uma movimentação da sociedade para ser alterada. Lei que favorece rico no Brasil pega. Dou um exemplo da área urbana, da moradia, do estatuto das cidades, que prevê desapropriação de áreas para imóveis sociais, é uma lei federal, que até hoje ainda não foi feita. Vamos começar a fazer cumprir o que já tem de lei em favor da sociedade. Taxação de grandes fortunas está na Constituição também. Uma série de leis que poderiam beneficiar as comunidades mais pobres.

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