O secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia, Jaques Wagner, chega à TV Aratu e, daqui a vinte minutos, vai revelar que considera Rui Costa como um irmão mais novo, recordará que Luís Eduardo Magalhães era um amigo “simpático e carinhoso”, e que “Lula é o político mais importante que o país criou nos últimos 30 anos”, além da surpreendente: “Eu acho que o juiz Moro tem obsessão no combate à corrupção”.
Antes de chegar ao estúdio do programa Linha de Frente, ele abre logo um sorriso para qualquer funcionário que o cumprimenta.
Wagner parece estar sempre com o radar político ligado e apitando dentro de seu cérebro: fique atento para preencher eventuais lacunas de simpatia. Enquanto conversa com o diretor da Aratu, Nei Bandeira Júnior, outro aficcionado por política e ex-secretário de administração da Bahia, o presidenciável aproveita para retribuir qualquer sorriso ou aceno que recebe das pessoas à sua volta.
Jaques Wagner sabe que não precisa estar em ano par (2014/ 2016/ 2018) para vivenciar o sentimento de eterna campanha.
Ele se recusa solenemente a assumir uma candidatura à Presidência da República. Insiste que a opção A, a opção B e a opção C do PT são todas uma: Lula, atualmente inelegível por ser condenado a 12 anos e um mês de reclusão pela oitava turma do Tribunal Regional Federal da 4a Região.
Há nessa atitude uma sincera reverência ao amigo de 40 anos, que ele chama de maior político do Brasil. Mas há também uma estratégia política importante: Wagner sabe que assumir-se candidato ainda em fevereiro é um risco desnecessário, não com a Justiça Eleitoral, mas com os próprios adversários que podem fazer dele a bola da vez nas denúncias e nos ataques.
Quando as câmeras desligarem, após uma hora de conversa em que o político (de forma rara) não se recusa a responder nada, ele voltará a descontrair. Wagner se sentira à vontade para confidenciar previsões políticas aos empresários Ana e Tiago Coelho e demonstrar confiança numa vitória do governador Rui Costa para a reeleição – inclusive na capital baiana.
Veja os principais pontos da entrevista
DONA FÁTIMA CONTRA A PRESIDÊNCIA
A família sofre muito. com essa questão de Face, todo mundo tá falando, uma hora falam bem, outra hora falam mal. Acho que a gente perdeu muito da convivência democrática, você pode pensar diferente de mim, mas não tem o direito de xingar e falar mal. Termina que a família sofre muito. Fátima me ajudou muito, mas falar de presidência é querer briga com ela. O Senado ela acha natural, e realmente a presidência exige muito.
CANDIDATURA NEGADA
Eu me nego a assumir a candidatura, porque já tenho candidato. Meu candidato é Lula, que uns gostam, outros não gostam, mas na minha opinião é o político brasileiro que mais tem condição de fazer o que o Brasil mais precisa hoje. Quem tem capacidade de agregar é ele, então, ele é meu candidato, é candidato do PT e de, sei lá, 40% dos brasileiros. Nós estamos todos trabalhando pela candidatura dele. Lutando no espaço do judiciário para garantir a candidatura. Não tem como um partido político trabalhar com dois projetos. Então nosso candidato é Lula. E ele não vai recuar, porque a obsessão dele é provar a sua inocência.
PLANO DE EMERGÊNCIA
Se ele (Lula) for interditado, aí nos passaremos para um plano de emergência. Que pode ser do PT ou de algum partido de fora. O PT não pode achar que o candidato da Frente Brasil Popular seja só do PT. Quando Eduardo Campos estava vivo, eu insistia com ele que ele poderia se colocar como sucessor. Hoje, você tem a Manuela do PC do B e, pontuando ainda melhor, você tem Ciro Gomes, do PDT. Ele é um cara que tem muita coisa agregada.
A “GULA” DO PT
O PT é uma instituição, a gente abriu mão da candidatura de 2016 para Alice Portugal, do PC do B. Você não mantém o grupo unido se você acha que só os seus podem pontuar. Eu ganhei de um grupo político porque uma pessoa só detinha o mando de campo total, então as pessoas começam a espirrar do grupo. Aqui o sol não nasce para todos, só nasce para os filhos do PT. Eu não acho que o PT seja um partido guloso, ao mesmo tempo, nenhum partido abre mão do poder graciosamente.
RUI COSTA
Fizemos o sucessor Rui Costa, que ninguém conhecia. Hoje, por onde passo, todo mundo fala bem, está bombando Rui Costa. Eu passei o mandato pra ele e dei conselho para ele não gastar o fígado com intriga. Deixe seu fígado para um bom vinho com Aline, em casa. O pedido é que eu quero continuar sendo lembrado no coração dos baianos, mas não quero que as pessoas tenham saudade de mim pela falta do meu governo. Então eu quero que se comprometa a ser melhor governador do que mim. E ele está cumprindo. A aproximação das pessoas com ele é muito carinhosa. Hoje há um reconhecimento que a figura de Rui se afirmou como liderança política. Eu não tenho por que ter inveja. Rui tem uma obsessão pela gestão, o que é muito bom no momento que a gente vive. Eu governei na época das vacas gordas. Ele governa com as vacas magras, o que é bem diferente. Eu não tenho inveja, pra mim Rui é meu irmão mais novo. Então, você não tem ciúme de irmão. Ele é um tremendo de um gestor.
INTIMIDADE COM LULA
Eu sou admirador dele, sem idolatria. O que mais entristece a ele é esse sentimento de injustiça. Ele me diz: Galego, o apartamento não é meu. O sentimento de ser quase rifado em praça pública, sem você ter prova… A grande pergunta que todo mundo faz é Cadê a Prova? Você pode achar tudo o que você quiser, mas ou você prova que o cara é ladrão, ou você não pode chamar de ladrão. Tem livros escritos desmontando a sentença do moro. Todo mundo sabe que tem um complô por trás disso querendo tirar o nosso Neymar de campo. Querem tirar o nosso Neymar, o melhor atacante de campo, que é o Lula. Eu acho incrível a força interior dele. Ele é o ex-presidente da República, qual foi o mal que esse homem fez ao país? Qual a raiva que tem desse homem? Lula é o político mais importante que o país criou nos últimos 30 anos.
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FALHAS DO PT
Do ponto de vista que muita gente que se decepcionou com o PT, eu tenho certeza que não foi pelo Lula. Foi por muita gente que meteu os pés pelas mãos, como eu digo, quem não nunca comeu melaço quando come se lambuza. Eu acho que tem muita gente nossa que fez o que não deveria ser feito. Mas a instituição é uma coisa, os membros da instituição são outra. O partido não é só a direção, o partido são seus torcedores e militantes. Eu acho que gente errou, mas isso não quer dizer que o partido está errado. Tanto isso é verdade, que nas últimas pesquisas o PT voltou a ser o mais admirado e o mais querido. Pra muita gente que nos olhava como uma coisa pura, foi uma decepção. Todas as instituições você tem gente boa e gente ruim, Até gosto de brincar que dentro de cada um de nós tem santo e tem diabo.
AMIZADE COM LUÍS EDUARDO MAGALHÃES
Com Luís Eduardo, tinha uma relação mais do que civilizada, para mim, era uma relação de amizade. Ele era de 16 de março e eu também, só que ele quatro anos mais moço que eu. Ele foi presidente da Câmara dos Deputados, quando eu era líder das oposições. Teve aniversário meu que eu fiz no meu prédio e ele foi lá com Michelle (Marie, a esposa) comemorar junto. Tanto que quando ele faleceu essas fotografias eu dei de presente pro então senador Antonio Carlos Magalhães, e era ele comemorando com muita gente do PT. Era uma figura extremamente simpática e extremamente carinhosa. Sem dúvida nenhuma, ele tinha o potencial de ser o governador. Não dá para prever se ele chegaria a presidente da República, mas seguramente naquela eleição (2018), ele seria eleito governador do estado. Naquela época, ele escolheu Otto Alencar para ser o vice. Hoje, Otto é o amigo e irmão que ganhei na política.
Clique abaixo e veja Jaques Wagner comentando sobre Luís Eduardo Magalhães e ACM:
SENADOR ACM
A minha relação com o senador, eu sempre fiz oposição. Eu defendo que a política a gente não precisa ficar personalizando. Na minha campanha, que ninguém acreditava que eu ia ganhar, eu me treinava para não falar o nome do senador. Eu falava sobre o jeito do PFL governar. Eu brincava (com os aliados): vocês falam o nome dele toda hora, terminam fazendo propaganda dele. A mesquinharia não vai levar ninguém a lugar nenhum. Eu era oposição ao senador, mas nunca fui na canela. Faça política mostrando o que você tem de bom, não o que o outro tem de ruim. O que o outro tem de ruim o povo já sabe. Quando teve uma invasão no Congresso, eu estava na sala de Luís, quando o senador ligou pra ele perguntando se ele não iria botar a polícia para expulsar o pessoal. Ele ouviu, ficou calado, e perguntou se eu conseguiria administrar. Eu fui lá, negociei com o pessoal e não precisou entrar polícia pelo meio.
Veja a entrevista completa de Jaques Wagner ao Linha de Frente:
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