Kall Brasil: Ainda existe mecânico para máquina de costura; e a mensagem dele pode ser a mais inspiradora do seu dia

Kall Brasil, Mecânico de máquinas de costura que dedica 1h30 por dia a limpar voluntariamente Praia do Flamengo

Ainda existem máquinas de costura. E ainda existe, por mais surpresa que cause, o profissional responsável por consertar e dar manutenção nesses equipamentos. Delicadezas resistem aos resmungos insalubres da modernidade.

Imagine encerrar a balada na madrugada e, no início da manhã, estar de bermuda na praia. Muita gente já dispôs de energia para isso, raros foram os que vestiram a bermuda para simplesmente limpar a área no momento que seria de descanso. Assim como profissões antigas, algumas atitudes parecem em desuso, equivocadas no tempo e no espaço. Uma delas é altruísmo.

Na Praia do Flamengo, em Salvador, Kall Brasil e o amigo José Barbosa iniciaram o domingo (11) recolhendo plástico, lixo e tampas de garrafa calcificadas, após a madrugada cantando em um evento evangélico. Kall é crooner gospel, mas a atividade principal, há 22 anos, é a de mecânico de máquina de costuras.

Antes mesmo das 6h, eles já tinham recolhido centenas de tampas de garrafa na areia. As efígies de aço inoxidável passam por um processo de disfarce, envolvidas com líquens, betume, areia, mas o aspecto de fragmento de coral não engana o olhar disciplinado de Brasil. Ele tem uma garra mecânica que vai bem em cima do intruso poluidor.

Veja o vídeo:


Brasil revela – e não há motivos aparentes para duvidar – que dedica 1h a 1h30 do seu dia a essa ação. Antes mesmo de aplaudir, muita gente vai decidir questionar, suspeitar, ou insinuar que ele realiza isso por algum tipo de conveniência.

Estamos aqui fazendo o papel de formiguinha. Venho desfrutar da natureza, Deus me deu uma residência aqui próxima, então, tenho que cooperar um pouco com o local que ele me deu.” Para alguns, morar em Praia do Flamengo é morar em praia de rico. Mas para um mecânico de máquina de costura é presente de Deus”

No mundo regido pelo monopólio de nossos ocos hedonismos de adolescentes crescidinhos, natural que exista a desconfiança automática em atitudes divergentes da lei de Gerson de que o importante é levar vantagem em tudo. Somos foco fixo na escassez, desacreditamos de abundância: “para alguém ganhar, um ou mais devem perder algo”

Kall Brasil: “A gente percebe que o mar está vivo, ele não aceita qualquer coisa, ele joga pra fora”

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Assim, é ofensivo sonhar que haja um sentimento de realização e recompensa em se doar a algo. “Sacos, copos, eu acho aqui coisas surpreendentes: preservativos, absorventes, lâmpadas grandes, até sofás jogados aqui dentro”, enumera Kall, menos com tom de indignação e mais com voz de “perdoa, eles não sabem o que fazer”.

“Olhe que maravilha! A gente percebe que o mar está vivo, ele não aceita qualquer coisa, ele joga pra fora. É como você estar cheio de coisas a falar e diz eu não quero isso, vou jogar fora, me realizo, desabafa. Eu vejo como um desabafo do mar de dizer assim poxa, você joga tanta coisa aqui dentro e ele diz eu não quero isso, eu quero estar limpo. A gente olha para o mar e diz assim que coisa maravilhosa, é vivo, é uma coisa de Deus”.

Essa frase longa é dita em um fôlego único. Nem pense que estão extintas as máquinas de costura. Por mais que não pareçam são elas as que fabricam as roupas novas para os mesmos corpos de sempre.

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