Na época em que era possível aglomerar, atravessar uma passarela em Salvador era enfrentar um carnaval

Naquela época, aglomerar ainda estava na moda em Salvador. Uma simples caminhada pela passarela que liga o shopping ao terminal rodoviário poderia ser uma odisseia de suores e e pés pisados ou uma experiência carnavalesca (tudo dependia do olhar ou do humor envolvidos). Em janeiro de 2003, pude relatar um pouco da história desses equipamentos na capital baiana e das histórias que transitavam por ali diariamente. Ainda não havia rede social, aquilo era a teia de seres humanos. Ainda não havia sequer a possibilidade de coronavírus, aglomerar era preciso.

Microcosmo de gente

A vida pulsa em aglomeração, humor e libido no universo eclético da passarela do Iguatemi, em Salvador

O filósofo clássico Heráclito definia, com beleza peculiar às frases simples, o princípio de constante mutabilidade humana dizendo que “não é possível banhar-se duas vezes no mesmo rio: Ou o homem não será o mesmo, ou o rio”, ensinava. Provavelmente, a inspiração para o axioma do pensador tenha surgido de um banho no curso do rio Caystre na cidade de Éfeso, onde Heráclito nasceu, na antiga Jônia, atual Turquia. Já o intelectual contemporâneo Jean Baudrillard traz a questão da modernidade e da dissolução do indivíduo na selva da civilização com uma imagem ainda mais banal: a da passante que atrai a atenção e em seguida perde-se tragada pela multidão. Possivelmente, Baudrillard construiu sua metáfora caminhando pela Champs-Elysées, a larga, arborizada e imponente avenida que liga a Praça Charles de Gaulle à monumental Praça da Concórdia, em Paris.

O aposentado, filósofo de botequim e anônimo Jaime Souza, 68 anos, versão mal-ajambrada de um Jece Valadão, com a boca banguela escancarada e um tanto de malícia no palavreado entrou na briga de conceitos. “É nesse vaivém, empurra-empurra que a vida fica mais gostosa”, decretou, usando um duplo sentido que só percebeu quem pôde ver a cara de satisfação do idoso no meio do esfrega-esfrega.

Para chegar à sua lapidar proposição, o senhor de cabelos brancos e pele enrugada, mas vicejando libidinagem, não ficou elucubrando conceitos, exercitando dialética ou teorizando sobre o sexo dos anjos. Foi criar seu próprio teorema onde a vida pulsa: a passarela do Iguatemi.

Mais movimentada passarela da Bahia, a via suspensa que une o shopping de maior freqüência do estado ao Terminal Rodoviário de Salvador é uma pequena cidade de uma só rua, sem edifícios, nem instituições. No diminuto trecho de 227 metros de comprimento por 2,5 metros de largura, uma Entre Rios caminha todo dia, uma São Sebastião do Passé anda ou uma Xique-Xique passeia. A média é de 40 mil pessoas transitando diariamente pelo local, estimativa da Secretarial de Transportes Urbanos. Tamanho fervilhar de vida foi prato cheio para a inspiração lúbrica de seu Jaime, em uma terça-feira, lá pelas 12h30. Poderia ser numa segunda, ou no início da noite de sexta, até mesmo num domingo ao meio-dia. Não coincidentemente, estes horários representam os momentos de término de cultos na vizinha edificação da Igreja Universal do Reino de Deus.

Do prédio monumental e imponente em uma das zonas mais nobres da cidade, sai uma leva de fiéis que toma conta das ruas em direção à Estação de Transbordo ou ao Terminal Rodoviário. Nessas horas, andar por aquela elevada estrada de concreto é como atravessar uma via-crúcis. Ou então a própria materialização do purgatório bíblico. “Isto aqui é um inferno”, batiza uma jovem, baixinho para não atrair a ira do círculo de fiéis e Deus não tomar conhecimento da blasfêmia. Não se sabe sequer como a garota arrumou fôlego para o sussurro, espremida entre centenas de outras. Nesse momento, a multidão que transita de forma vagarosa tem dois objetivos: o primeiro é chegar aos seus pontos de ônibus; o outro com certeza é invalidar o princípio da impenetrabilidadeda física. No espremido corredor ao ar livre, nas horas mais críticas, é possível que um pedestre menos apressado e fisicamente desprotegido demore uns 20 minutos para vencer a compacta massa humana, quase um amálgama de gente.

Indo e vindo ao sabor do fluxo de pessoas, o estudante Ricardo Oliveira, 16 anos, 1,64m e 56 quilos, já não tem mais livre arbítrio no meio do povo. “Meus pés não estão tocando no chão”, avisa. Os que conseguem preservar algum senso de humor são capazes de perceber situações engraçadíssimas. Um rapaz de 20 e poucos anos, camisa preta estampada com a palavra Kiss (não o carinhoso ato de beijar e sim o grupo de rock), muito impaciente com o tumulto, pisa o calcanhar da senhora à frente, descalçando o sapato simples e sem salto.

Vestida com uma saia longa e uma camisa de cambraia presa aos pulsos, a despeito do calor infernal, a fiel exclama: “Que …” O palavrão apropriado para uma situação tão irritante não chegou a sair da boca da crente que há pouco tinha embebido a alma com o bálsamo eclesiástico da fé. O jeito foi continuar andando com o calçado saindo do pé.

Um pouquinho mais à frente uma morena, enfiada em um top floral e numa calça branca colada às pernas e quadris bem cevados se intromete no bolo humano. É o suficiente para catalisar todos os esforços e hormônios de um mulato facilmente identificado como obreiro da igreja. Para ficar no horizonte da física, pode-se caracterizar a ação do benfeitor como um choque perfeitamente inelástico, um impulso traseiro para maximizar a quantidade de movimento. Afinal de contas, sabe-se que o nono mandamento prescreve: se o próximo não estiver tão próximo da mulher. Em cinco minutos, a multidão vai arrefecendo e, muitos chutes de calcanhares, empurrões e princípios de desmaios depois, toma seu curso normal. Normal não significa esterilidade de emoções e casos pitorescos. Eles estão sempre presentes na Passarela do Iguatemi.

Manancial de humanos

Exótico microcosmo de gente, pólis da essência humana, a passarela é um manancial rico em personagens. Na zona mais próximo ao shopping, sentada sobre um papelão, Maria da Conceição Silva, 43 anos, é vista como aberração por grande parte dos transeuntes. Com o corpo inflado em 130 quilos de gordura e a perna direita completamente deformada pelos males da elefantíase, a mulher sobrevive da conciliação de asco e piedade transformados em cédulas de pequeno valor e moedas arremessadas em direção ao corpo da enferma. “Não olhe pra essas coisas”, diz o irmão mais velho de um garoto, protegendo os olhos do menino da visão do granuloso membro inferior da doente. Uma mãe utiliza o exemplo para dar uma lição de educação sanitária à filha: “Veja aí o que acontece com quem não se cuida”, avisa, mostrando a perna da mulher tumorosa com a presença das filárias nos vasos linfáticos.

Por trás da aparência grotesca, esconde-se a alegria contagiante de Maria da Conceição. Fez três cirurgias sem sucesso na parte posterior do joelho e ouviu recentemente a previsão de um médico de que precisaria amputar. Antes teria que assinar um termo de responsabilidade reconhecendo o alto risco da cirurgia e a possibilidade de falecimento. Tenta há seis anos uma aposentadoria do INSS por invalidez, mas sempre ouve a resposta de que a enfermidade não permite a aposentadoria. A passarela é um sustento temporário, apenas aproveitando o filão das compras de fim de ano. Consegue, em média, R$20 por dia, saindo de casa às 7h e retornando meia-noite.

“Faltam R$300 para eu completar os R$5,3 mil para comprar a cadeira de rodas motorizada”, contabiliza, depois de praguejar contra os taxistas que não aceitam conduzi-la por causa da aparência. As pessoas passam e seus olhares de soslaio e repugnância não intimidam Maria da Conceição. “A perna não dói, mas quando fico nervosa ela rasga e mina um líquido”, revela, mostrando três cicatrizes de cirurgias. Alternando o ponto entre a passarela e a avenida Manoel Dias da Silva, Conceição faz elogios ao local. “Ninguém rouba ninguém, os pivetes não perseguem. Aqui é nota dez”, vibra. Como que para referendar a observação, Conceição recebe uma nota de R$1 da professora de artes marciais Elisângela Francisco, que não parece concordar com a comparação ao paraíso. “Não gosto muito de andar por aqui. Minha mãe já foi assaltada”, alega, imprimindo mais velocidade na caminhada. Mas logo ela, que dá aulas de defesa pessoal, com medo de roubo? “Na verdade, o medo maior é de andar nessa altura”, revela com inusitada acrofobia.

VEJA MAIS: O real motivo para o comerciante Paulo César doar o relógio ao estudante Mário

Praticamente pendurado em uma das barras, sentado, sem nenhuma forma de fixação a não ser o equilíbrio corporal, o ambulante Ricardo Araújo, 25 anos, sustenta discretamente uma coleção de bolsas de fabricação própria que tenta vender a R$5 cada. Tem cinco anos vendendo na passarela. Tenta fugir dos constantes assédios dos fiscais da Sesp, cuja função é não deixar ambulantes ocuparem o local para vendas. Aliás, “fiscais da Sesp” é uma expressão jamais usada por ambulantes, que preferem o sinônimo pejorativo para os profissionais: o rapa. “A gente até entende que eles estão fazendo o trabalho, mas têm que ver que precisamos sustentar a família”, condena Ricardo, pai de uma menina de 2 anos. Em cinco anos trabalhando na passarela, acompanhou um teatro a céu aberto. “Aqui acontece de tudo: gente tropeçando e caindo, marido dando tapa em mulher, até os caras roubando”, denuncia.

No meio do papo, a doméstica Gilvanete Barbosa, 19 anos, depois de mais um dia de serviço na “casa de família” no Caminho das Árvores, encanta-se com o modelo da bolsinha. Acertada a pechincha (R$4,50), a única questão é escolher a cor da peça. O vendedor, que em dias bons vende quatro bolsas e nos ruins nenhuma, sugere: “Leve essa marronzinha que combina com sua pele”, acrescenta, olhos gulosos nas coxas da moça apenas parcialmente cobertas por uma saia de crochê.

Em direção à rodoviária, onde vai pegar ônibus para Marechal Rondon, Gilvanete passa por Genivaldo de Jesus Souza, um deficiente físico que prega passagens bíblicas diuturnamente e recebe caridade. “Deus tem uma missão para você”, conclama, enquanto Gilvanete passa pelo local sem dar muita atenção. A frase tanto pode ter sido para ela como para as cinco ou seis pessoas que andam simultaneamente ao seu lado. Com uma deformidade no tronco e nos membros que o reduz a um tamanho não superior a um metro, Genivaldo recita parábolas bíblicas continuamente. Sem poder se locomover, chega ao local às 9h, carregado pelo irmão Ubirajara. “Desde que aceitei Jesus, em 99, na Igreja Batista de Plataforma, vi que Deus tem um plano para mim. Uma vez, um jovem ia se jogar dessa passarela e, ao ouvir minhas palavras, desistiu”, confia. O slogan do shopping é “nenhum é igual a você”. O rio de gente que corre diariamente pelo espaço faz com que a passarela seja sempre a mesma e sempre diferente.

passarela-lotada-com-gente-saindo-por-fora-como-da

LEIA TAMBÉM: 10 mínimas mudanças de hábitos = resultados transformadores em um ano

VIDA SUSPENSA

Passarelas projetadas por Lelé formam ecossistemas ricos em personagens

A passarela do Iguatemi é uma exacerbação do que acontece em outros equipamentos da cidade. Salvador tem 16 passarelas no modelo mais moderno, projetadas pelo arquiteto João Filgueiras e construídas pela Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal), empresa de economia mista especializada na fabricação de mobiliário urbano de alta resistência e que também serve à iniciativa privada. Cada uma delas tem uma personalidade própria, a depender da espécie de transeunte que comporta. As quatro passarelas na Avenida Bonocô são gêmeas, abrigam três pontos de ônibus em ambas as pistas da avenida e na via exclusiva.

Não têm tanto movimento como outras mais trafegadas, mas possuem uma conotação clubística marcante. Principalmente em dias de Ba-Vi na Fonte Nova, são decoradas com bandeiras das equipes. A passarela do Detran é uma das mais antigas e foi decisiva para a diminuição do número de atropelamentos na região.

Na BR-324, algumas passarelas antigas e descobertas servem à população local. Uma delas, próximo à Brasilgás, bem conservada, recebe bom fluxo de passageiros carregando sacos, pacotes, malas e mochilas, que saem de São Caetano para pegar ônibus intermunicipais na parada. Mesmo sem ter um toldo de proteção, os transeuntes preferem usá-la até em dias de chuva a atravessar a rodovia. As passarelas da Avenida ACM viraram ponto preferencial de suporte de galhardetes e cartazes no período eleitoral.

Na Avenida Centenário, no Chame-Chame, uma passarela no Shopping Barra é a que mais se assemelha ao perfil da similar no Iguatemi. Com um fluxo de pessoas razoável, configura os jogos de poder e as implicações sociais observadas na principal expoente do fenômeno das passarelas. Logo de início, uma senhora, daquelas com aparência de que fazem passeios vespertinos em supermercados, reclama da ausência de iluminação artificial no local. O ambulante Antônio Barbosa, 55 anos, vendedor de bugigangas paraguaias, confirma a queixa, ressaltando que não é feita manutenção há quase dois anos. “Trabalho no escuro até a hora do shopping fechar”, afirma Antônio, salientando que a partir das 18h, “hora que o rapa vai embora”, trabalha mais livremente. A chuva começa a cair e ele rapidamente muda o nicho de mercado, estendendo sombrinhas.

A estratégia dá certo. Um senhora, roupa molhada, cabelo sarará escorrendo água e entrevendo calvície,questiona: “Quanto é?” “Cinco reais”. Escolhe uma estampada em rosa com motivos florais, a mais espalhafatosa das peças.

panico-na-passarela-do-iguatemi

Embate de classes

A reprodução do embate de classes não se esgota. Dois rapazes com estilo de geração shopping center (roupas de marca, tênis da moda, cabelos com gel) emendam: “Ô, véio, quanto é o guarda-chuva?” “Cinco reais”.

Ambos saem sem nem um agradecimento. Um senhor vestido com calça de linho e camisa social se aproxima e sequer pergunta o preço. Aponta para a sombrinha em tons marrons.”Aquela ali”. Só depois questiona o valor:”É cinco reais, não é?” E leva. Antônio aponta para um vendedor, poucos metros adiante, que se recusara a dar entrevista. “Aquele é safado, quer prejudicar chamando o rapa. Já tomou porrada porque é dedo-duro”. E vende mais uma sombrinha antes da chuva cessar.

Sentados em poses que poderiam ser confundidas com indolência, quatro hippies fazem artesanato em palha e bijouterias. Depois de passarem por Itubiara, Brasília, Juazeiro e Petrolina, a previsão é de retornar logo que arrecadarem o dinheiro para a passagem. Um deles, Gilberto Gonçalves, mostra uma sacola com uma muda de roupa puída, uma marmita e uma manta velha. Enquanto isso, dois vendedores de loja de marca, fardados, perguntam quanto custa um colar. Pela expressão de reprovação, não gostaram de ouvir R$10. Mais na frente, um casal branco de estrangeiros compra um cinto pretensamente de couro nas mãos de outro ambulante. Ao lado, o vendedor de doces oferece uma iguaria exótica ao paladar europeu: beijuzinho molhado de tapioca. “Faço por R$0,50”. E nessa, a integração étnica vai se desenrolando. A passarela não tem fronteiras.

Mais do que equipamentos facilitadores do trânsito, as passarelas de Salvador se transformaram em pequenos ecossistemas. A do Iguatemi é insuperável. A dupla de soldados da PM, Lacerda e Vieira, sabe muito bem disso. “Aqui dá de tudo. De estelionatário a viado ordenando o bofe a largar o outro”, avisa Vieira, óculos escuros no rosto e pinta de tira do antigo seriado Chips. Encostados nos peitoris de ferro ou fazendo uma ronda pelo local, os dois formam uma das três duplas de policiais que se revezam em turnos das 7h às 13h, 13h às 19h e 16h30 às 22h30. “Depois que o policiamento ficou constante aqui, o índice de ocorrências caiu muito”, assegura o orgulhoso Lacerda. “Antes, tinha muito pivetinho praticando pequenos furtos”, completa. Basta terminar de falar para dois menores passarem, tentando disfarçar a apreensão. “Aqueles dois ali são ladrõezinhos, mas como viram que estamos aqui vão procurar outro canal”.

Velhos tarados

Lacerda e Vieira já viram muita história na passarela. “Teve briga por causa de traição, flagrante de adultério, mas também tem muita gente que deixa o carro aí no estacionamento do shopping e se encontra por aqui”, entrega Lacerda, detetive particular nas horas vagas. “Ultimamente, tem aparecido muito velho tarado. Eles entram no bolo de gente para ficar roçando o braço nos seios e nas nádegas das mulheres. Ou então oferecem R$20 ou R$30 para as garotas mostrarem os seios. Alguns conseguem”, detalha. Um senhor de paletó, acima de qualquer suspeita, caminha rapidamente carregando uma pasta e, quando abordado pela reportagem do Correio da Bahia, dá de ombros: “Tô ocupado agora”. O soldado Vieira dá sua versão para o repúdio do idoso.

“Aquele mesmo é um dos velhos tarados”.

Em uma informal convenção para a viabilização do trânsito, as pessoas adotam, nas passarelas, o critério de fluxo semelhante ao dos automóveis em rodovias: duas filas caminhando em direções opostas com os pedestres à direita. Geralmente, esse tipo de escolha facilita o trabalho dos distribuidores de panfletos. Eles são facilmente encontrados oferecendo de limpeza de estofados a dedetização, de dinheiro fácil a consultas ao tarô.

Para Ana Lúcia Santos, 23 anos, o vaivém de gente vai ser transformado em um polpudo aumento nas comissões. Ela tenta cadastrar associados para o cartão de compras de um supermercado próximo. Por que escolheu o local? “Porque aqui tem muito movimento”, responde, sem querer perder tempo e mais um potencial cliente. Em 30 minutos, conseguiu 22 adesões, quase um recorde do marketing one-to- one. “O produto também é bom, a gente dá 40 dias para pagar e quatro vezes sem juros, sem taxa de anuidade”, completa como exercício de modéstia.

Quando menos se espera, a circulação é atravancada, as passagens são interrompidas. Na frente de uma fileira de pessoas, um deficiente físico, apoiado em muletas, não consegue manter a mesma cadência da maioria, provocando um engarrafamento humano parecido com o de carros que acontece na pista alguns metros abaixo.

Um pouco atrás, sem perceber as razões do congestionamento, um rapaz resmunga:  “Pôxa, até parece que tem aleijado na fila”. E na ala oposta, em outro momento, uma mulher reclama com a garota da frente: “Ih, essa aí está desfilando”. Desfilar, desfilar mesmo, a estudante Carolina Santana, 16 anos, só poderia nesse tipo de passarela. Baixotinha, um pouco acima do peso, cabelos desgrenhados e rosto com espinha, não tem nada do biótipo e do glamour das modelos que desfilam suas magrezas pouco ocultas em roupas chiques no Iguatemi Collection. Lá vai Carol no mesmo passo, sem dar bola às queixas, pisando em ovos e tendo um público um pouco mais hostil do que os dos desfiles de moda. A passarela popular é assim mesmo: dinâmica, plural, sem preconceitos.

*publicado em 12 de janeiro de 2003, no Correio Repórter

Siga-me nas redes sociais: @opabloreis

Compartilhe:

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email