Porque o baiano Sidônio Palmeira na Comunicação pode ser o melhor “Ministro da Fazenda” dos governos Lula

O baiano Sidônio Palmeira prefere a discrição. Quando seu nome surge nas manchetes, nas colunas de bastidores políticos ou nos comentários dos programas de rádio, é porque algo está fora do lugar — e não é ele quem está em apuros. Quem conhece o publicitário garante: se ele é chamado, é para resolver um problema, e dos grandes.

Há uma semana, escrevi sobre o gosto ruim que dá ver baiano torcendo pelo rebaixamento do seu time rival. Não era sobre esporte, apenas. Aliás, o que menos se estava dizendo ali era sobre futebol. Era também sobre política. E sempre sobre Bahia.

No sábado (6), a notícia ganhou ampla repercussão na coluna de Monica Bergamo, na Folha de São Paulo: “Lula convida publicitário para ser ‘Duda Mendonça’ do governo”. O texto também cita o papel de João Santana na gestão Dilma Rousseff. “Duda orientava discursos e posicionamentos, supervisionava peças publicitárias e conversava com Lula constantemente. Santana tinha um peso ainda maior pois era ouvido por Dilma em quase todas as questões, da roupa que vestia aos pronunciamentos que fazia à nação”. Não à toa são nomes baianos…

Desde o início do governo, informa Bergamo, o convite era feito – e recusado. Em dois anos, muitas consultas informais. (Foi do baiano a ideia de colocar Fernando Haddad como protagonista do pronunciamento em rede nacional sobre corte de gastos e isenção de Imposto de Renda). Tudo leva a crer que os conselhos ao presidente são bem recebidos e devem ter sido valiosos, para agora voltar o convite , embalado por um frenesi na mídia especializada nacional.

Antes mesmo de discutir o papel de Sidônio no governo, isso deveria ser exaltado na Bahia. Deveria estar sendo comemorado desde o vereador do PSOL até o cacique do União Brasil. Desde o dono de empreiteira ao cara do mercadinho. Até o marqueteiro de ACM Neto deveria torcer por isso: toda vez que ele fosse apresentado como um baiano especialista em comunicação política, sua origem já estaria em novo patamar.

O estado fica maior com Rui Costa, Margareth Menezes no primeiro escalão do executivo e várias dezenas no segundo escalão. O mesmo vale para Elmar Nascimento e Antônio Brito disputando protagonismo na Câmara dos Deputados, ou Jaques Wagner e Otto Alencar na melhor fase da articulação política no senado.

Revanchismos, nesses âmbitos, são rancores menores, como explica O rabino Nilton Bonder, no ensaio Alma & Política: “partidarismo significa torpor e significa o “eu” acima da consciência, num pensar sem Alma. (…) Republicanos ou democratas, esquerda ou direita, ambos são seres da pólis, criaturas antigas que não podem liderar uma cidadania planetária ou, mais ainda, transpessoal. Simbolizam o Regime que conheceu “o outro” e forjou contratos sociais, representando nossa primeira evolução a um estágio coletivo de consciência. O “outro”, porém, fez melhor enxergar-se a situação própria.

Além da campanha vitoriosa de Lula III, o marqueteiro ficou responsável pela propaganda que ajudou aos governos do PT na Bahia, desde Jaques Wagner. Agora, a missão seria mostrar ao Brasil as mensagens que mais tocariam o coração – e o bolso – dos brasileiros, além do slogan “união e reconstrução”. Os números da economia no segundo ano deste governo Lula não são ruins. Ao contrário: em treze anos de mandatos de governos do PT, certamente, estão entre os três melhores.

O PIB apresenta crescimento em patamar das cinco maiores potências. O crescimento acumulado em 4 trimestres é de 3,1%. O governo Lula 2, o melhor, teve média de crescimento de 4,6% ao ano, um fenômeno mundial. A questão é que, naquela época, segundo analistas, “tava tranquilo, tava favorável”. Hoje, é conflito internacional em muitas frentes, tensão limítrofe entre China e EUA pela transição de hegemonia global, barreiras comerciais e geopolíticas, crise climática e energética.

O desemprego atingiu menor nível da série histórica. A inflação aparece dentro da meta, ao contrário de outras nações do G8. Ou seja, tem mais gente no país trabalhando, tem mais gente gerando riqueza.

O que se comenta é que a percepção da população sobre isso não acompanha essa aritmética simples. O que se comenta é que há falhas na comunicação do governo. Talvez, estejam procurando dar ênfase em cenários que deveriam estar mais discretos. Ou estejam falando de temas que a população não esteja disposta a captar.

Sidônio parece compreender essa lacuna. Na apresentação do livro dele “Brasil da Esperança – o marketing nas eleições mais importantes da história do país” há uma pista: “A verdade crua não passa de uma mera constatação da realidade. O desafio da equipe de campanha foi tornar a verdade tão encantadora e capaz de se difundir quanto a mentira”.

Se unir esses números atuais com a divulgação perfeita (em forma e conteúdo) há que se alcançar o equilíbrio do bem estar em finanças e no emocional. É esse o Sidônio que Lula tem buscado e que, ao meu ver, seria mais benfeitor da pasta da Fazenda do que da Comunicação.

Pra mim, o sentimento é como o de ver o rubro-negro Wagner Moura em Hollywood, ou acompanhar alguma cinematográfica jornada do Bahia nas Libertadores, ou pensar na evolução da marca Supercoffee, comemorar cada premiação de Nizan Guanaes, ou vibrar pra Fabrício Bloisi ser o gestor do maior fundo de investimentos do planeta: vou torcer. Tem Bahia ali, e é gente que entende daqueles paranauês.

O mesmo confidenciou a amigos que não tem interesse em deixar seu domicílio em Salvador para encarar a rinha de políticos que é Brasília. Ele próprio tem que pensar em tudo isso. Talvez, seja uma missão para além de adicionar capítulo na biografia e sim somar mais alguns tijolos na alvenaria do imóvel Bahia.

 

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