Algo a mais para se pensar: A Queda une Neymar, Tite e o existencialista francês Albert Camus

Se Neymar e Tite caem, o escritor francês argumentou que o que aprendeu sobre a moral dos homens foi no futebol .

Num dos memes mais disseminados após a vitória do Brasil sobre a Costa Rica, por 2×0, o jogador Neymar aparece protegido por um andador gigante. O aparato laranja, que mantém a bola e seu corpo em segurança dos inimigos da vida.

Não se sabe se a escolha de um item de fácil associação a um bebê foi imediata e proposital. Mas, a redoma que certamente se instalou na mente do jogador não funcionara no primeiro jogo (10 faltas), nem no segundo (quase o mesmo tanto de quedas).

A torcida insatisfeita, os adversários insatisfeitos, o juiz insatisfeito

A mídia internacional qualificando de trapaceiro e até “cry baby”. Nada parece ser tão indigno de solidariedade como a dificuldade do camisa 10 em lidar com o próprio centro de gravidade (ou com a gravidade de não estar no eixo). Dificilmente, alguém seria capaz de verbalizar uma defesa a quem, reiteradamente, aos 26 anos, se comporte cobrando a atenção destinada a um lactente.

Algumas defesas – as mais inconscientes – podem ser feitas sem palavras.

Últimos minutos de jogo

 

Tite corre em puro estado de vibração com um gol. A forma como o treinador comemora é explosão, é incontinência verbal, gestual e física, é reação espontânea de torcedor. É uma… queda. Tite sofreu uma lesão na coxa e passou a andar mancando após o episódio que ficou caracterizado como “o tombo”.

Na coleção de reações de torcedor, poderia ter dado um soco forte no ar e sofrer luxação no ombro, como também poderia ter gritado por um minuto ininterruptamente e arrumado uma inconveniente rouquidão para a coletiva, por fim poderia também ter jogado paletó e camisa para arquibancada e encenado a imagem mais insana de todas as Copas.

 

Ele correu… e caiu.neymar-andador-meme

 

Albert Camus, morto em 1960

foi o mais influente existencialista francês do século XX ao lado de Jean Paul Sartre. Ganhou um Nobel de Literatura, sobretudo pelo livro O Estrangeiro. Em 1956, escreveu A Queda, um monólogo protagonizado por um advogado hedonista, que parece estar em um momento singular de confissão e autoflagelo.

Em determinado momento, o protagonista (reforçando, um advogado, aquele que usa palavras para defender ou acusar) decide eviscerar as hipocrisias humanas e não se contém a respeito dos que se julgam especiais:

[su_quote]   Somos todos casos excepcionais. Todos queremos recorrer de qualquer coisa! Cada qual exige ser considerado inocente, a todo custo, mesmo que para isso seja preciso acusar o gênero humano e o céu. Daremos uma alegria medíocre a um homem se lhe elogiarmos os esforços aos quais se tornou inteligente ou generoso”.[/su_quote]

Camus foi goleiro do Racing de Argel até os 17 anos, quando uma tuberculose interrompeu o sonho do atleta e inaugurou a veia do escritor.

[su_quote]   O que eu sei sobre a moral e as obrigações dos homens devo ao tempo em que joguei futebol”, resumiu certa vez.[/su_quote]

Tite só viria a nascer 14 meses após a morte de Camus. Não se sabe se foi influenciado em algo da literatura do francês, esse técnico – aquele que fica sempre à margem do jogo, o de fora, o estrangeiro.

 

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